A nova era do patrocínio no futebol brasileiro

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Futebol - patrocínio
Imagem: divulgação

Com investimentos milionários, um novo segmento se tornou protagonista nos materiais esportivos dos principais clubes do Brasil e a tendência aparentemente veio para ficar. Neste artigo analisaremos o tema com profundidade.

Nos últimos 20 anos o futebol no País tem entrado de maneira acelerada em uma nova era de patrocínio. Afinal, as antigas marcas de companhias aéreas, bancos e de fabricantes de bebidas, por exemplo, estão dando lugar a um novo tipo de protagonista: as casas de apostas esportivas.

Presentes em materiais esportivos, placas de publicidade nos estádios e outros ambientes ligados ao futebol, as chamadas bets são hoje peça-chave na busca de financiamento por parte dos clubes.

Por outro lado, a enxurrada de bookmakers em parcerias com as agremiações tem dado origem a muitos debates sobre ética, regulamentação e o futuro do esporte.

O Governo Federal estabeleceu uma nova legislação para o segmento, que entrou em vigor no primeiro dia de 2025. Entretanto, o tema ainda gera muita polêmica e mesmo ações no Judiciário. Os clubes temem perder importantes fontes de renda.

LEVANTAMENTO

Um levantamento da consultoria Ibope Repucom, feito em 2024, 19 dos 20 clubes da Série A contavam com algum tipo de patrocínio de casas de apostas.

O investimento total destas empresas em parcerias com os clubes ultrapassou a cifra de R$ 500 milhões só no ano passado, um crescimento superior a 300% em relação a 2020, e tende a crescer nas próximas temporadas. Mesmo com as restrições impostas pelo Governo o entendimento geral é que as bets vieram para ficar.

“Nunca antes o setor de apostas teve uma participação tão intensa no futebol brasileiro. É um reflexo de um mercado em expansão e da carência de receitas estáveis para os clubes”, destacou o diretor executivo da Ibope Repucom, José Colagrossi.

IMPACTO DIRETO NAS FINANÇAS

Obviamente, para os clubes os acordos com as casas de apostas são uma fonte fundamental de receitas. O Flamengo, clube mais popular e saudável uma empresa do segmento. O valor é superior ao que o clube recebia antes com parceiros mais tradicionais. financeiramente do País, assinou recentemente um contrato de R$ 85 milhões com

O Corinthians, outro clube de imensa torcida, mas não tão bem quanto o rubro negro em termos de finanças, também assinou em 2024 contrato com uma bet com cifra estimada em R$ 120 milhões ao longo de três temporadas.

“Hoje as casas de apostas são as únicas capazes de oferecer contratos de patrocínio com valores realmente competitivos”, assinalou Fernando Ferreira, especialista em marketing esportivo da Pluri Consultoria.

Para Fernando Ferreira, trata-se de uma relação de dependência entre clubes e os milhões das berts que tende apenas a crescer nas próximas temporadas no futebol brasileiro.

DESAFIOS E CRÍTICAS: A ÉTICA EM JOGO

Os benefícios financeiros para os clubes brasileiros são inegáveis. Por outro lado, as parcerias em massa com bookmakers também levantam algumas preocupações, principalmente em relação a questões éticas no futebol brasileiro.

Em 2024 o Ministério Público de Goiás lançou a Operação Penalidade Máxima, que revelou um esquema de apostadores que estariam subornando jogadores para provocarem penalidades durante as partidas de futebol das Séries B e C.

Na divisão de elite do futebol brasileiro as questões éticas também têm sido muito debatidas. Recentemente a Polícia Federal teria descoberto a participação do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, para favorecer alguns parentes e amigos. O jogador teria forçado um cartão amarelo para que apostadores ganhassem algum dinheiro.

“É fundamental que o crescimento do setor seja acompanhado de uma regulamentação rígida, que proteja a integridade do esporte. Do contrário corremos o risco de ver a credibilidade do jogo comprometida”, alerta Maurício Murad, sociólogo com especialização em futebol.

CAMINHO SEM VOLTA?

Mesmo com as controvérsias e os rigores da nova legislação imposta pelo Governo – o Poder Público também tem procurado zelar pela proteção de adolescentes e crianças em relação à publicidade de casas de apostas na TV – tudo indica que estas empresas vieram para o futebol brasileiro para ficar.

O próprio governo precisa dos investimentos feitos pelas bets. Afinal, estima-se que a União arrecadará mais de R$ 12 bilhões em impostos com a regulamentação do setor. Por outro lado, é inegável que os clubes estão cada vez mais dependentes de tais parcerias.

“O que está acontecendo no Brasil não é diferente do que já ocorre em ligas como a Premier League, por exemplo, ou em La Liga, da Espanha”, lembra Tatiana Dourado, pesquisadora em direito esportivo.

Para ela a chave está em equilibrar os interesses econômicos com responsabilidade social. De nada adiantaria simplesmente proibir as bets no futebol brasileiro. Afinal, o dinheiro injetado por estas empresas é importante não apenas para os clubes, mas pode ser também para toda a sociedade.