O paradoxo financeiro do futebol brasileiro: faturamentos históricos, mas risco à sustentabilidade

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Paradoxo financeiro nos clubes
Imagem: Divulgação

O futebol brasileiro vive um momento paradoxal em termos financeiros, com os clubes da Série A atingindo faturamentos históricos, porém com dívidas crescendo em ritmo alarmante e colocando em risco a sustentabilidade das agremiações esportivas.

Segundo o Relatório Convocados 2025, que foi elaborado pela Convocados Gestora de Ativos de Futebol em parceria com a OutField e patrocinado pela Galapagos Capital, os clubes brasileiros da elite nacional registraram no ano passado uma receita total de R$ 10,2 bilhões. Este número representa um aumento de 10% em relação ao exercício anterior. Porém, nem tudo são flores. Aliás, muito pelo contrário e veremos por que.

PARADOXO

Apesar das receitas recordes, a situação financeira dos clubes segue na maior parte dos casos bastante preocupante. Afinal, as dívidas totais atingiram a astronômica cifra de R$ 14,6 bilhões também em 2024. Um aumento de 23% em relação ao ano anterior. Gastos com contratações e salários impulsionaram o endividamento.

O Corinthians é um exemplo disso. O Timão tem a maior dívida entre os clubes da Série A, totalizando R$ 2,343 bilhões, seguido pelo Atlético Mineiro, com R$ 2,304 bilhões.

Ambos são clubes com enormes torcidas e que têm marcas muito fortes. Por isso, tanto os paulistas quanto o Galo têm condições de equacionar suas dívidas e se tornarem instituições bem geridas.

Alguns clubes como Botafogo e Bahia, por exemplo, agora são SAFs, Trata-se de um modelo gerencial que pode ser muito eficiente. Entretanto, não é necessário deixar o atual modelo para que as coisas melhorem. Diversificar as fontes de receita é algo fundamental para se reinventar no futebol.

DEPENDÊNCIA DAS VENDAS DE JOGADORES

Um fator que contribui decisivamente para este cenário caótico é a dependência que os clubes têm da venda de atletas para conseguirem equilibrar suas contas.

O Relatório Convocados 2025 destaca que, embora as receitas recorrentes tenham registrado um aumento de 4% no ano passado, as operações dos clubes seguem muito dependente dos negócios feitos no mercado de transferências.

IMPACTO DE ALGUNS PATROCÍNIOS

Outro ponto que foi analisado no relatório é o crescente papel das casas de apostas como fontes de receita para os clubes por meio de patrocínios muitas vezes milionários.  Em 2024 as bets representaram cerca de 7% da receita total da Série A, injetando cerca de R$ 580 milhões nos clubes. Em 2025 espera-se que o montante aumente em R$ 1 bilhão.

NECESSIDADE DE GESTÃO PROFISSIONAL

Economistas destacam a necessidade de uma gestão aprimorada nos clubes para que a situação comece a mudar nos próximos anos e as dívidas comecem a cair.

Um dos responsáveis pelo estudo, o economista César Grafietti, comentou os resultados do Relatório Convocados 2025:

“+O futebol brasileiro de fato vive uma contradição. Crescemos em faturamento, vemos um mercado mais profissional e com mais investidores olhando o setor. Porém, seguimos operando com um risco muito elevado. A gestão dos clubes ainda é insuficiente”, observou Grafietti.

FUTURO

Sócia da Galapagos Capital, Andrea Di Sarno destaca a importância de uma gestão sólida para garantir o próprio futuro do futebol brasileiro. “O futebol brasileiro precisa ser gerido exatamente como aquilo que é: uma indústria bilionária. É um setor importante da economia que pode ter um crescimento expressivo e verdadeiramente sustentável. Basta quer os clubes encarem a gestão financeira como prioridade”, destacou.

CONCLUSÃO

É fundamental que os clubes brasileiros, principalmente os da elite, com milhões torcedores em todo o País, adotem práticas der governança moderna e responsabilidade financeira para garantir a sustentabilidade do setor.

O Relatório Convocados 2025 evidencia que, apesar do crescimento consistente nas receitas, os clubes ainda enfrentam muitos desafios na gestão financeira.

Está na hora de olhar para frente com inteligência e de maneira verdadeiramente profissional. Disso depende a própria sobrevivência daquele que sempre foi considerado o melhor futebol do planeta, com muita competitividade e talentos em profusão.