Torcer com deficiência: os desafios de acessibilidade nos estádios do País

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Torcida do Botafogo
Foto; Vítor Silva/Botafogo

Entusiasmo, bandeiras, gritos de gol, vaias, a atmosfera em estádios do futebol sempre é emocionante para quem ama o esporte mais popular do planeta. Para alguns, porém, nem sempre é tão fácil torcer, pois ainda esbarram em barreiras reais, físicas e sociais.

Neste texto conversamos com alguns torcedores com deficiências (PCDs) e especialistas, além de fazermos um levantamento de dados para entender os entraves de quem quer torcer por seu time do coração, mas não tem que superar muitos obstáculos.

DESCUMPRIMENTO DE NORMAS E AUSÊNCIA DE INFRAESTRUTURA

No Brasil há critérios claros estabelecidos pela ABNT NBR 9050 para a acessibilidade em locais públicos como estádios. Entretanto, muitos clubes ignoram tais exigências e os transtornos prosseguem.

Em 2023, o mineiro Hélio de Abreu passou mal e teve de ser socorrido ao tentar acessar o Estádio Independência, em Belo Horizonte. Ele sofreu com ausência de vagas reservadas, corredores estreitos e restrição no uso de elevadores.  O filho dele, Romário, denunciou o fato de que solicitou três vezes o elevador, mesmo funcionando, mas não teve sucesso.

“Fiquei muito frustrado e houve um impacto emocional pela dificuldade para subir e assistir a um jogo do Cruzeiro. Foi muito difícil”, lembrou Hélio de Abreu.

Situações como essa acontecem muitas vezes por todo o Brasil. Não há rampas, banheiros adaptados, sinalização tátil, espaços reservados e fiscalização efetiva. Isso faz com que muitas pessoas com deficiência acabem desistindo de assistir às partidas de futebol.

QUANDO TORCER É UMA SUPERAÇÃO

Em Campinas Sueli Gramari, que que tem sequelas de poliomielite, teve de contar com a ajuda de jogadores para deixar o estádio da Ponte Preta, Moisés Lucarelli.O irmão dela, Fernando, conta o que aconteceu.

“Passamos por diversas situações. Por exemplo, minha irmã ficou presa em um dos bancos, pois não havia suporte. Foi horrível e isso tem de mudar”, protesta.

Para a própria Sueli o futebol é como um combustível emocional. “O esporte tira a gente desta bolha…nos dá ânimo. Por isso insisto em ir ao estádio, mesmo com as dificuldades”, enfatiza.

AUTISTAS

O problema nos estádios não se resume à mobilidade. Torcedores no espectro autista também enfrentam desafios nos locais dos jogos. Alguns clubes como o Botafogo, por exemplo, avançaram nesta questão, inaugurando uma sala sensorial no Estádio Nilton Santos.

Palmeiras, Atlético Mineiro e Coritiba também já contam com espaços semelhantes. Entretanto, a grande maioria dos clubes ainda ignora a necessidade especial destes torcedores, muitas vezes muito ligados aos seus times de coração.

O pequeno Lucas, torcedor do Botafogo, se afastava do foguetório e do barulho, mas com adaptações (incorporação gradual) passou a frequentar o estádio com menos ansiedade. Segundo seu pai, o espaço no Botafogo reforça o potencial do futebol como ferramenta de inclusão.

VISIBILIDADE PREJUDICADA

Há estádios, como o MorumBis, que tem um setor para PCDs, mas as pessoas que reclamam de lugares que não estão bem posicionados. Mesmo em arenas mais modernas, como a MRV, em Belo Horizonte, existem pontos cegos causados por vidros de baixa inclinação das arquibancadas, o que já foi denunciado por internautas.

FISCALIZAÇÃO DEFICIENTE E PENAS POUCO EFICAZES

De fato, há uma legislação federal (Lei nº 10.098/2000) relacionada ao tema. Entretanto, pelo menos por enquanto, na grande maioria dos estádios não existe fiscalização. Além disso, as penas para quem descumprir a legislação são leves e pouco efetivas.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

– Salas sensoriais voltados a autistas

– Setores reservados com acompanhantes

– Mais campanhas de conscientização

CONCLUSÃO

Torcer por seu clube do coração não deve ser um sofrimento nem deve ser exclusividade para quem consegue subir escadas, suportar ruídos ou enfrentar filas sem apoio.

Se é verdade que o futebol é um fator unificador, garantir uma real acessibilidade é fundamental e uma questão de inclusão social, cidadania e dignidade.