O mundo do futebol profissional no interior, esquemas e riscos

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Corrupção no futebol no interior do Brasil
Foto: Divulgação

Por trás das arquibancadas e do brilho dos grandes estádios, existe um futebol que pouca gente enxerga. No interior País, bem longe das transmissões nacionais e dos holofotes da mídia esportiva, sobrevive um mercado paralelo repleto de esquemas, manipulações e dramas humanos.

Nesta reportagem, falamos com algumas pessoas que quem convivem nesse universo pouco conhecido, revelando os bastidores de um esporte marcado por desigualdades, riscos e silêncios obrigados.

EXTORSÃO E MANIPULAÇÃO

Em 2015, tensões e denúncias vieram à tona no futebol do interior de São Paulo. O técnico João Telê, do time do Guará, acusou uma figura ligada ao site “Futebol Interior” de extorsão pública — o valor exigido era R$ 1.500 mensais para garantir cobertura favorável

Ele entrou em campo vestindo 200 camisas com a denúncia, exigindo justiça. “Não vou parar. Vou levar minhas denúncias ao Ministério Público… e ao senador Romário”, afirmou, mostrando que a resistência existe, embora apenas na ponta do iceberg.

CORRUPÇÃO E FRAUDE

O interior é terreno fértil para quem manipula resultados. Jovens atletas, com salários baixos, facilmente aceitam convites de apostadores para ações que podem custar cartões ou impedir vitórias.

Um ex-jogador não identificado confirma que “na maioria das vezes, jogadores de divisões inferiores aceitam qualquer proposta em troca de pequenas vantagens”. Ele criticou: “a grande maioria ganha salários ínfimos, não tem estrutura, então se recebem uma proposta… acabam aceitando.

OPERAÇÕES POLICIAIS

A Operação Penalidade Máxima de 2023, do Ministério Público de Goiás, escancarou a gravidade do problema. Apenas em um dos jogos investigados, a máfia das apostas faturou R$ 2 milhões — e nem se trata de um caso isolado.

Thiago Matos, ex-atleta e hoje dirigente do Sindicato dos Atletas do RS, faz um alerta imoortante: “Atletas precisam ter a dimensão da gravidade desta prática”.

BASTIDORES E CONCHAVOS

No Distrito Federal, o campeonato local, o “Candangão”, virou alvo de investigação ao surgir suspeitas de máfia infiltrada no torneio local. Segundo relatos, cartolas, árbitros e jogadores locais teriam sido aliciados por esquemas de resultados combinados.

Um dirigente chefiava todo o processo: definia jogos com potencial de lucro, abordava defensores e árbitros, e oferecia quantias generosas pela vitória de alguns clubes.

EX-JORNALISTAS INVESTIGARAM ESQUEMAS

O jornalista Luiz Carlos Azenha criticou em seu livro O Lado Sujo do Futebol o redesenho do jogo em favor de interesses econômicos. “O futebol brasileiro é organizado para que algumas pessoas enriqueçam em detrimento do interesse público”, disse.

Já o livro Jogo Roubado, de Brett Forrest, descreve a manipulação global dos resultados usando apostas milionárias — com envolvimento de redes que intimidam e até mesmo praticam assassinatos quando seus lucros são ameaçados.

ALGUMAS VOZES

Uma voz reveladora é de um ex-jogador interiorano (que pediu anonimato): “Isso acontece em todas as categorias, em todos os escalões… no interior é mais fácil, porque ninguém vê.”

Thiago Matos reforça:

“É preciso punir. Atletas precisam compreender os riscos profissionais e esportivos da situação”.

CONSEQUÊNCIAS E ‘SILENCIAMENTOS’

As repercussões são muitas e graves: jogadores suspensos por até dois anos, multas de R$ 100 mil e, em casos extremos, até banimentos. Mas vários dos envolvidos permanecem impunes — e novos esquemas emergem durante os estaduais e torneios locais, sem visibilidade ou investimento na fiscalização. Quem ousa denunciar corre o risco de ser prontamente “silenciado”.

SOLUÇÕES URGENTES

Especialistas indicam caminhos: firme fiscalização, transparência nas arbitragens, proteção aos delatores e suporte aos atletas para que consigam resistir às pressões. O sindicato gaúcho chamando clubes e jogadores para sessões de alerta é um avanço, mas o futebol interiorano precisa de muito mais estrutura.

CONCLUSÃO

O futebol do interior guarda verdades incômodas: esquemas de extorsão, apostadores invisíveis, árbitros e jogadores acuados. É um jogo que ninguém vê na TV, mas que mexe com a essência do esporte.

Se o futebol é de fato a paixão nacional do brasileiro, seu submundo ameaça minar valores, desvalorizando talentos e manchando resultados. Algo precisa ser feito e de maneira constante para haja lisura no esporte mais popular do País.