Torcidas organizadas x segurança nos estádios: quem está vencendo a disputa no Brasil?

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briga de torcidas
Imagem: Redes sociais

A festa que os torcedores têm feito nos jogos do Mundial da Fifa dos Estados Unidos, em especial os sul-americanos, tem emocionado a muitos amantes do futebol. Porém, nem sempre as torcidas dão espetáculo e em alguns casos geram muita preocupação.

Nos últimos anos, a relação entre torcidas organizadas e os responsáveis pela segurança nos estádios brasileiros tem sido marcada por um histórico de conflitos, medidas de contenção e uma constante sensação de tensão.

Se, por um lado, essas torcidas representam uma tradição cultural de apoio incondicional aos clubes, por outro, muitos de seus integrantes têm protagonizado episódios de violência que afastam famílias e fãs comuns das arquibancadas.

VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS

Casos emblemáticos ajudam a ilustrar a questão Em 2013, em Joinville (SC), torcedores de Vasco e Atlético (PR) protagonizaram uma briga generalizada nas arquibancadas, com cenas de selvageria transmitidas ao vivo.

Em 2013, em São Paulo, o torcedor Kevin Espada, da Bolívia, morreu atingido por um sinalizador disparado por um integrante de uma torcida organizada do Corinthians durante um jogo da Libertadores.

Nem sempre a violência fica restrita aos estádios. Em 2023, dois torcedores morreram em confrontos entre torcidas do Palmeiras e do Flamengo em uma avenida da capital paulista, quilômetros longe do local da partida.

TORCIDA ÚNICA

Tais episódios reforçam a adoção de medidas duras por parte das autoridades. Uma das principais é a imposição da torcida única em clássicos, principalmente em São Paulo, onde essa política vigora há nove anos.

A justificativa é clara: diminuir os riscos de confrontos antes e depois das partidas, principalmente nos arredores dos estádios e em estações de transporte público.

ALÉM DA RIVALIDADE

Para o sociólogo e especialista em segurança pública Marcos Alvim, a questão vai além da rivalidade esportiva. “As torcidas organizadas passaram a representar também espaços de identidade social e, infelizmente, de disputa territorial e poder. Isso cria uma lógica de confronto que se alimenta da violência”, afirma.

Mas será que a torcida única tem sido suficiente? Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo indicam redução de ocorrências em dias de clássicos desde a adoção da medida.

No entanto, críticos apontam que o problema foi apenas deslocado. “A violência continua acontecendo, só que agora longe do estádio, em locais mais difíceis de monitorar”, aponta Andréa Lopes, promotora do Ministério Público de São Paulo e integrante do GECRADI (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância).

PRESSÃO

Clubes e federações também se veem pressionados. Por um lado, dependem do apoio das organizadas, que ajudam a criar o ambiente nos jogos. Por outro, sofrem sanções e prejuízos financeiros quando há confusões — seja em perda de mando de campo, seja na imagem arranhada do clube.

Algumas iniciativas têm tentado mudar esse cenário. Projetos de mediação entre torcidas rivais, programas de cadastramento rigoroso de membros das organizadas e uso de tecnologia de reconhecimento facial em estádios vêm sendo adotados. No entanto, ainda há um longo caminho a ser trilhado.

ENTRE A PAIXÃO E A CIVILIDADE

Afinal, quem está vencendo essa disputa? Se considerarmos que ainda há brigas, mortes e medo entre torcedores comuns, é difícil dizer que a segurança venceu.

Ao mesmo tempo, o cerco jurídico, tecnológico e policial está mais apertado, e muitos líderes de torcidas têm sido responsabilizados por atos de violência.

O equilíbrio entre paixão e civilidade segue como o grande desafio do futebol brasileiro. Até lá, o torcedor que só quer ver a bola rolar em paz e ver mais uma vitória de seu clube do coração.