A ‘batalha das transmissões’: Palmeiras, Flamengo e a guerra dos direitos

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Batalha entre Flamengo e Palmeiras
Flamengo x Palmeiras/ Foto: site torcidaflamengo.com.br

Os conflitos recentes entre os grandes clubes brasileiros em torno da distribuição dos direitos de transmissão e acordos financeiros têm ganhado grande repercussão. O futebol em nosso País ainda não conseguiu chegar a um entendimento satisfatório sobre o assunto.

Palmeiras e Flamengo, os dois clubes mais poderosos do País no momento, estão em uma disputa acirrada, que expõe divergências profundas sobre como a maneira que o dinheiro das transmissões deve ser dividido.

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A presidente do Palmeiras, a empresária Leila Pereira, chegou a ameaçar entrar na Justiça contra o Flamengo e defendeu até mesmo a criação de um campeonato sem a presença do clube carioca, um dos mais populares do Brasil.

O QUE DIVIDE PALMEIRAS E FLAMENGO?

O conflito ganhou destaque após o Flamengo conseguir uma liminar no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para bloquear o repasse de R$ 77 milhões referentes a direitos de TV que seriam distribuídos entre os clubes da Libra, a liga criada por vários times grandes para negociar o futebol brasileiro.

O Flamengo questiona a forma como os valores são divididos atualmente e busca na Justiça rever os termos acordados em 2024, que preveem uma distribuição mista baseada em parcela igualitária, performance na competição e audiência das partidas.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, respondeu duramente a essa ação judicial. Ela afirmou: “Se a atual gestão do Flamengo acha que, por meio desta ação na Justiça do Rio, conseguirá mudar o acordo assinado pelo presidente Landim, pode tirar o cavalinho da chuva. O Palmeiras não fará qualquer concessão nem reabrirá um assunto que já foi discutido exaustivamente e está encerrado”.

A dirigente também anunciou que o Palmeiras vai buscar uma indenização contra o Flamengo pelo prejuízo financeiro causado e criticou a postura que classificou como “individualista e predatória”.

DIVERGÊNCIAS E TENSÕES NA LIBRA

A Libra, liga criada para negociar coletivamente os contratos de TV, tinha o intuito de modernizar o futebol nacional e garantir uma divisão mais justa dos recursos. No entanto, as discordâncias internas entre clubes de grande porte como Flamengo, Palmeiras e outros têm posto em risco essa unidade.

José Boto, diretor do Flamengo, afirmou que o clube tentou resolver o conflito de forma amigável antes de recorrer à Justiça e disse: “Estamos defendendo os interesses do Flamengo e buscando uma distribuição mais justa dos valores, uma que realmente reflita o impacto de audiência que geramos”.

A divergência estaria relacionada a uma parcela dos direitos baseada na audiência das transmissões, onde o Flamengo, com sua enorme torcida, busca receber proporcionalmente mais.

Raí, ex-jogador e que esteve envolvido na gestão do São Paulo, pondera sobre a questão: “O desafio é encontrar equilíbrio para que os clubes maiores não dominem a receita e matem a competitividade, mas também que o modelo não penalize aqueles que geram grande valor para o futebol brasileiro”.

HISTÓRICO DO DEBATE SOBRE DIREITOS DE TRANSMISSÃO

Historicamente, a distribuição dos direitos de transmissão no futebol brasileiro tem sido motivo de conflitos. Antes da formação de ligas como a Libra, os contratos eram negociados individualmente ou de forma dispersa, o que gerava grande desigualdade financeira entre clubes, favorecendo os mais ricos.

O modelo atual tenta seguir uma lógica semelhante às grandes ligas europeias, onde uma parcela do dinheiro é dividida igualmente e outra parte é variada conforme desempenho e audiência.

PREMIER LEAGUE

Na Premier League 50% dos direitos são divididos igualmente entre os 20 clubes participantes do torneio, com o restante sendo distribuído com base no desempenho esportivo e na audiência, criando um equilíbrio que ajuda a manter a competitividade no campeonato.

No Brasil ainda há muitas dificuldades para implementar um modelo que satisfaça a todos os interesses, principalmente quando a receita total e o mercado de TV ainda são menos expressivos do que nas ligas europeias. Isso provoca rivalidade e insegurança jurídica, abalando a tentativa de centralizar os acordos.

IMPACTOS SOBRE O FUTEBOL NO PAÍS

A disputa entre os grandes clubes pode ter efeito negativo para o futebol nacional. A fragmentação dos interesses pode enfraquecer a capacidade coletiva de negociação com as emissoras, o que prejudicaria financeiramente clubes menores e afetaria o desenvolvimento do futebol como um todo.

Leila Pereira chegou a sugerir que, diante da postura do Flamengo, uma liga rival poderia ser criada sem o clube carioca. “Nós vamos buscar na Justiça uma indenização pelo prejuízo que a conduta individualista e predatória do Flamengo está causando ao Palmeiras e aos demais clubes da Libra… Não aceitamos a pressão que o Flamengo está fazendo”. Essa declaração revela a gravidade da tensão, que pode alterar definitivamente a estrutura do futebol brasileiro.

Enquanto isso, José Boto e Raí defendem a busca por um acordo que alivie as tensões e leve a um modelo sustentável, com transparência e justiça para todos os envolvidos.

O desafio está em encontrar uma solução que respeite a grandeza dos clubes, mas que não ameace a competitividade e a saúde financeira dos outros participantes.

CONCLUSÃO

Os próximos meses serão decisivos para o desenrolar dessa disputa, que traduz os desafios do futebol brasileiro na nova era das mídias e das negociações centralizadas. O equilíbrio entre justiça financeira, força dos clubes e competitividade poderá definir o futuro do esporte no País.