A inteligência artificial no futebol: scout, táticas e arbitragem sob o olhar dos algoritmos

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Inteligência espiritual
Imagem: Jovem Digital

O futebol está cada vez mais marcado pelos algoritmos, abrangendo desde o mapeamento de talentos até a tomada de decisões táticas e a arbitragem eletrônica.

Federações, clubes e empresas de tecnologia buscam nos dados e na Inteligência Artificial (IA) soluções para tornarem o esporte mais eficiente e competitivo, sem descuidar da justiça dentro das quatro linhas. O tema tem gerado alguns debates intensos e analisaremos o assunto um pouco em nosso texto.

SCOUT E IA: CAÇADA DIGITAL POR ATLETAS PROMISSORES

Algumas plataformas como a AiSCOUT, por exemplo, estão revolucionando o scouting ao permitir que jovens atletas de todo o planeta enviem vídeos com seus testes – corridas, dribles, saltos – e recebam avaliações automatizadas de performance.

O nigeriano Andre Odeku, foi um dos jogadores descobertos após registrar seu desempenho num parque local e conquistar um teste no Burnley graças ao sistema wired.com.

A democratização do scouting também chegou aos clubes de elite. O Sevilla FC, por meio de uma parceria com Meta e IBM, criou um assistente de scout próprio.

Basta ao olheiro pedir ao sistema um perfil ideal, que a IA cruza dados internos e externos para sugerir jogadores em segundos. Contudo, especialistas alertam que a inteligência artificial ainda precisa da interpretação humana:

“A IA é principalmente uma ferramenta e não o Santo Graal. A intuição humana continua sendo essencial”, destacou um dos diretores da Inside Out Analytics.

TÁTICAS SOB MEDIDA: OS CONSELHEIROS INVISÍVEIS

A IA também chegou ao universo da tática e cada vez ganha mais espaço. Projetos como o TacticAI, desenvolvido com o Liverpool, atual campeão da Premier League, simula variantes de posicionamento para cruzamentos e escanteios, por exemplo.

Algumas ferramentas que combinam reconhecimento de padrões com visão computacional já são capazes de apontar quais os pontos mais vulneráveis da defesa de um adversário. Isto já está presente em clubes como Barcelona, Manchester City e Brighton.

AUTOMAÇÃO TOTAL NA ARBITRAGEM E NO VAR?

A polêmica tem sido uma marca registrada em muitas das decisões do VAR no futebol, gerando muitas reclamações e exigindo o aprimoramento da tecnologia. A demora nas decisões tem sido um dos principais alvos das críticas.

O técnico Ange Postecoglou, campeão da Liga Europa com o Tottenham, comenta: “às vezes uma decisão é clara, óbvia, mesmo assim são necessários minutos para uma decisão. Logo, logo isto será arbitrado pela IA”, prevê o treinador.

Para o CEO da Soccerment, Aldo Comi, talvez até mesmo as linhas poderão desaparecer. “Talvez nem mesmo precisemos mais de árbitros, com IA baseada em análise de câmeras e tomando as decisões necessárias com rapidez e acerto”, comenta Comi.

Além disso, pesquisas acadêmicas demonstram que sistemas como o VARS — IA semi-automática para identificação de faltas — já atingem patamares de acertos próximos aos humanos, com 50% de reconhecimento de faltas e 46% de aplicação de sanções corretas em testes complexos. A tecnologia segue avançando no futebol!

LIMITES E DESAFIOS: ÉTICA E HUMANDIADE

Os ganhos com o uso da IA são inegáveis, mas há desafios a serem confrontados. Sempre existe um risco de algoritmos reproduzirem vieses. Pode ignorar jogadores com perfis não convencionais ou favorecer apenas quem tende mais estatisticamente.

Além disso, o custo de implementação da IA e a desigualdade entre os clubes mais ricos e os emergentes também são preocupantes. Segundo os críticos mais ferozes, toda tecnologia tem imperfeições. “Nenhum sistema será infalível, mas lances exigem interpretação humana” comenta Postecoglou, que destaca que são necessárias regras claras e menos espaço para interpretação do que a tecnologia detecta.

O FUTURO ENTRA EM CAMPO

A presença da IA já é uma realidade em várias áreas do futebol: tem sido usada para encontrar jovens promessas, analisar adversários com precisão matemática e aprimorar a arbitragem.

Integrar a tecnologia ao futebol, sem suprimir a alma do esporte é um grande desafio para os próximos anos. A intuição de um treinador, a emoção de um lance e o fator “imponderável” de uma partida não podem ser substituídas pela IA.

Como disse Gareth Southgate, que treinou a seleção inglesa:

“Temos que abraçar a mudança ou ficaremos para trás. A tecnologia não é substituta, mas um atalho para a preparação e pode ser uma vantagem competitiva”.