A nova geração dos ’sem clube’: a rotina invisível de jogadores desempregados

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Jogadores desempregados
Foto: Divulgação

Quando soa o apito final sem anúncio de renovações ou convites, começa o silêncio, com uma uma rotina de muita incerteza para jogadores profissionais que, de repente, ficam desempregados.

Em um mercado instável, longas temporadas de desemprego e poucas oportunidades, a nova geração enfrenta uma vida invisível aos olhos dos torcedores. Mas, nos bastidores, há histórias de resiliência, dignidade e, por vezes, desapontamento.

Dados do movimento Bom Senso FC indicam que cerca de 80 % dos jogadores passam pelo menos seis meses do ano sem contrato. Enquanto os holofotes brilham para quem segue dentro das quatro linhas, muitos profissionais vivem da espera por novas oportunidades. Abaixo conheceremos um pouco sobre tais histórias.

‘BICOS’ E SUPERAÇÃO

É o que explica o zagueiro Wanderson, que já jogou na Europa e retornou ao Brasil sem vínculo profissional. Em entrevista ao UOL, ele conta:

“Nesse momento de pandemia meu cunhado me arranjou um trabalho em um condomínio na Barra da Tijuca. Estava trabalhando lá de garagista, me virando… Agora tenho que arranjar um clube”.

Aos 28 anos, Wanderson considerou cursar fisioterapia e até dar aulas em escolinha de futebol – reflexo de uma vida de altos e baixos.

Outro caso é o do lateral Carlos Antônio, de 22 anos, que, após rescisão com clube mineiro, precisou vender roupas infantis com a esposa para pagar as contas. “Sem partidas, jogadores viram entregadores e vendem roupas para driblar a crise”, relata reportagem do ISTO É.

TREINAMENTO PARA MANTER VIVO O SONHO

Para driblar a ausência de competições, muitos recorrem a estruturas de apoio comunitárias. No Rio, o Sindicato dos Atletas do Estado do Rio de Janeiro oferece treinamentos coletivos para jogadores sem clube, com projetos que reúnem cerca de 28 atletas diariamente.

O ex-lateral Perivaldo, que passou por Botafogo, Bangu e Palmeiras, auxiliava nesses treinamentos antes de falecer há oito anos. Na época ele já alertava :

“No meu tempo, não tive a chance de recomeçar que eles estão tendo. Peço para levarem isso tudo muito a sério. A oportunidade não surge todo dia”, enfatizava Perivaldo.

O volante Roberto Lopes, ex-Vasco e Boavista, desempregado há vários meses, reconhece a importância dessa rede:

“Venho para cá e boto na cabeça que estou vindo para manter a forma, que daqui a pouco vou pisar num trampolim…Você pensa que não tem ninguém nos olhando? Claro que tem!”.

A DURA REALIDADE DOS ‘UNDERGOUND’

Para além dos treinos, muitos enfrentam a precariedade absoluta. O zagueiro Kemerson Alex, de 27 anos, atuou em divisões menores no Distrito Federal e enfrentou salários atrasados — chegando a depender do auxílio emergencial como autônomo.

“Já estou acostumado a ganhar pouco, a não ter garantia de jogar e receber o ano inteiro, com ou sem pandemia”, afirma Kemerson.

UM SISTEMA DESIGUAL

Enquanto alguns atravessam o desemprego com pontes de curso ou apoio institucional, muitos não têm onde treinar, competir ou se reinventar. Por outro lado a precariedade e a falta de calendário nas divisões inferiores agravam a invisibilidade desses profissionais.

O futebol pode ser a esperança de muitos, porém, sem uma rede de apoio estruturada, muitos atletas seguem entregues ao silêncio fora de campo. Enquanto isso aguardam ansiosos pelo contato de algum clube. Afinal, o sonho do sucesso nos gramados deve continuar.