Geopolítica da bola: como os conflitos internacionais influenciam o futebol

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Gianni Infantino - presidente da Fifa
Foto: Gianni Infantino/Fifa

O futebol, há tempos considerado por muitos um tipo de escudo contra tensões globais, infelizmente tornou-se palco de disputas políticas e diplomáticas.

Até junho de 2025, diversos episódios mostram como crises internacionais têm impactado jogadores, clubes e seleções – e como a FIFA reage (ou nem tanto) a essas situações. Abaixo abordaremos o assunto dando alguns exemplos de como os conflitos políticos ou militares impactam o mundo da bola.

CASOS CONCRETOS
1. Suspensão da Rússia (invasão da Ucrânia, desde 2022)

A Rússia foi sumariamente excluída de todas as competições da FIFA e da UEFA após sua invasão da Ucrânia em 2022.

Aleksander Dyukov, presidente da federação russa, defendeu publicamente a entrada da Rússia na AFC, evidenciando o impacto nas estruturas esportivas do país.

Entretanto, Gianni Infantino, presidente da Fifa, declarou que esperará o retorno da Rússia “assim que a guerra terminar”.

2. Iranianos e o embargo dos EUA (2025)

A seleção do Irã, embora qualificada para a Copa do Mundo de 2026 (EUA/México/Canadá), está em risco: a política de sanções dos EUA complicou a entrada de jogadores, delegação e torcedores, inclusive o atacante Milan Mehdi Taremi, da Internazionale.

A FIFA ainda discute alternativas, como acomodar o time somente no México.

3. Israel e a guerra em Gaza (2024–2025)

Apesar de críticas sobre um “triplo padrão”, a FIFA e a UEFA mantêm a seleção e clubes israelenses sem sanções, mesmo com operações militares em Gaza. O advogado esportivo Anıl Dinçer acusou diretamente:

“Até agora, tíquetes como empréstimos temporários ou proteção contratual para atletas em zonas de guerra não foram implementados no contexto israelense.

IMPACTOS SOBRE CLUBES E ATLETAS

Milan Mehdi Taremi (Inter)

Isolado no Irã, não pôde viajar para a disputa do Mundial de Clubes nos EUA; a diretoria do clube tenta negociação diplomática para sua liberação

Shakhtar Donetsk (Ucrânia)

O clube acusa a FIFA de ter negligenciado o futebol ucraniano desde o início da guerra em 2022. O CEO Serhii Palkin afirma que não houve fundo emergencial suficiente nem apoio a clubes atingidos pelos bloqueios financeiros.

Federação da Palestina

Há mobilização para transferir jogos para fora da região de conflito, como o suporte da Argélia. Porém, a FIFA vetou essa mudança, forçando partidas em locais neutros no Kuwait ou

AÇÃO (OU INAÇÃO) DA FIFA
  • Respondendo rápido… só a alguns

A FIFA foi elogiada pela suspensão imediata da Rússia em 2022. Em contraste, segue sem medidas semelhantes em relação a Israel, apesar de denúncias de stakeholders.

  • Tratamento desigual?

Consultores como Nick McGeehan e Human Rights Watch denunciam falta de uniformidade nas ações da FIFA, classificando-a como “ferramenta do Norte Global”.

  • Restrições de viagem e sanções diplomáticas
    No caso do Irã, a FIFA tem de lidar com leis externas (como o travel ban americano), exigindo soluções ad hoc, sem respaldo estatutário claro. 
CONCLUSÃO

A geopolítica da bola em 2025 revela a postura ambígua da FIFA. Afinal, enquanto a entidade age decisivamente contra alguns agentes considerados ofensores claros (Rússia), o que deve ser considerado acertado, por outro lado mantém-se em silêncio opta por ações mais contidas em outras frentes. Isso, obviamente gera críticas crescentes sobre sua credibilidade e isonomia.

Jogadores, clubes e seleções enfrentam consequências reais, desde impedimentos de acesso a competições e viagens até perdas financeiras e impactos esportivos, com a organização revelando claramente que seu poder é moldado por precedentes e pressões políticas.