O calendário brasileiro e o Mundial de Clubes da Fifa: desafios, adaptações e polêmicas

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Legado do Mundial de Clubes da Fifa
Imagem: Reprodução do Instagram

Um novo formato no Mundial de Clubes da Fifa – bastante semelhante ao modelo nas copas do mundo – está em andamento nos Estados Unidos pela primeira vez na história. Com 32 equipes de todos os continentes, o grande evento tem atraído o interesse a atenção de milhões de torcedores.

Porém, mesmo que haja sucesso na competição em terras norte-americanas, o fato é que analistas do futebol brasileiro cogitam sobre como o calendário nacional terá de se preparar melhor para as próximas edições. Afinal, a Fifa planeja que o evento de fato ocorra a cada quatro anos. Abaixo analisamos a questão com diferentes pontos de vista.

NOVO MUNDIAL, VELHOS PROBLEMAS

Tradicionalmente disputado em dezembro com sete clubes, o Mundial de Clubes agora é um torneio muito mais extenso e com maior visibilidade internacional. O Brasil tem quatro representantes: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras.

O calendário brasileiro, que já sofre com acúmulo de jogos entre estaduais, Brasileirão, Copa do Brasil e competições continentais, sem dúvida passa a ser mais pressionado por conta de um torneio de quase um mês em plena metade do ano.

NECESSIDADE DE MUDANÇAS

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estuda alternativas para adequar o calendário. Em entrevista recente ao canal SporTV, o ex-presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, afirmou que “o Brasil não pode ficar à margem de uma mudança global”. Ele sugeriu que a redução ou reformulação dos campeonatos estaduais pode ser uma saída. “É hora de os clubes e federações pensarem coletivamente. O futebol mudou”, disse Ednaldo na ocasião.

Clubes como Flamengo e Palmeiras têm pressionado por um calendário mais enxuto e alinhado com o europeu. O diretor de futebol do Flamengo, Marcos Braz, defendeu o novo Mundial: “É uma vitrine gigante. Participar com os melhores da Europa, em um formato de Copa, dá visibilidade e retorno financeiro. Mas precisamos parar de jogar 70 vezes por ano”, comenta Braz.

CRÍTICAS E PREOCUPAÇÕES

Nem todos, porém, estão empolgados. O ex-técnico do Red Bull Bragantino, Pedro Caixinha, foi direto em sua crítica: “É um absurdo pensar em mais uma competição sem resolver o calendário atual. Vamos sobrecarregar ainda mais os atletas, e o produto final, que é o jogo, perde em qualidade”, critica o treinador português.

A Associação Nacional de Atletas Profissionais (ANAPF) também se manifestou. Em nota, apontou que a sobrecarga física dos jogadores pode gerar aumento nas lesões e queda de desempenho: “Os jogadores brasileiros já atuam em média mais do que os europeus. Inserir uma competição extra, sem ajustes, é irresponsável”.

PRÓS E CONTRAS

Entre os prós do evento da Fifa está a exposição internacional dos clubes sul-americanos, que sempre viram o Mundial como uma chance de competir em igualdade com os gigantes europeus.

Além disso, há o retorno financeiro: cada clube participante recebe cerca de US$ 5 milhões apenas pela presença, podendo faturar ainda mais com premiações, patrocínios e marketing global.

No entanto, entre os contras, o impacto no Brasileirão é uma preocupação. Com a ausência de clubes grandes por semanas, o campeonato nacional pode perder competitividade e audiência.

Além disso, há um risco real de se prejudicar a preparação para a temporada seguinte, já que o torneio será sempre disputado no meio do ano.

CAMINHOS POSSÍVEIS

Especialistas apontam que uma solução viável seria alinhar o calendário nacional ao europeu, iniciando a temporada em agosto e finalizando em maio. Essa mudança, porém, esbarra em interesses regionais e resistência de federações estaduais.

O jornalista Mauro Cezar Pereira defende a reformulação total: “O futebol brasileiro precisa olhar para fora. A cada ano nos isolamos mais. O novo Mundial é uma chance de entrar no jogo global, mas não com esse calendário arcaico”, defende.

CONCLUSÃO

A nova era do Mundial de Clubes promete mais visibilidade, competição e dinheiro. Porém, também impõe desafios estruturais sérios ao futebol brasileiro. Sem uma reavaliação profunda do calendário e das prioridades, os clubes correm o risco de colher mais desgaste do que glória.