
O futebol brasileiro tem assistido nos últimos anos a uma verdadeira “enxurrada” de técnicos estrangeiros. Alguns dos principais clubes da Série A como Palmeiras, Cruzeiro e o atual campeão Botafogo têm treinadores do exterior.
Mas afinal, estamos diante de uma moda passageira ou trata-se apenas de competência dos “gringos”? Por outro lado, não haveria mais boas opções de treinadores no próprio País? A questão continua gerando polêmica. Abaixo analisamos o tema mais detalhadamente.
COMPETÊNCIA NÃO DEPENDE DE NACIONALIDADE
Desde que o português Jorge Jesus comandou o Flamengo com enorme sucesso, levando o rubro negro a vários títulos importantes, vários profissionais do exterior desembarcaram em nosso País. Os clubes mais ricos têm aberto seus cofres para trazer treinadores para comandar seus elencos.
Além do ótimo e igualmente vitorioso Abel Ferreira, há anos no comando do Palmeiras, nomes como Luís Castro, que passou bem pelo Botafogo, Sebastián Setién, que dirigiu o Atlético, além de Artur Jorge, que teve um desempenho excepcional no alvinegro carioca – conquistando Brasileirão e Libertadores – têm dominado o cenário. O que eles trouxeram de novo?
Performance tática mais apurada: criatividade e um novo viés na montagem dos esquemas táticos de suas equipes têm caracterizado os treinadores estrangeiros.
Gestão e profissionalismo: Passou o tempo da falta de profissionalismo ou do paternalismo na relação entre técnicos e atletas. Os europeus primam pela modernidade e eficiência. Joga quem está melhor e se encaixa de verdade em seu planejamento.
Para o comentarista Mauro Beting a tendência é na verdade um reflexo da globalização do futebol e de uma maior cobrança por resultados imediatos.
“Os clubes querem entregar performance de elite. Se o profissional que atende a esse perfil está em Lisboa ou em Buenos aires, o que importa é o resultado e rápido. O torcedor não quer saber se o treinador nasceu em Porto Alegre ou Madrid”, afirma Beting.
E OS BRASILEIROS?
Muitos têm criticado o fato de que o Brasil não investe muito na formação de técnicos nacionais. A Europa, por outro lado, já dispõe de centros de formação de excelência, como é o caso da Academia da Uefa. No Brasil a CBF ainda enfrenta críticas como a falta de atualização e estrutura em seus cursos.
Renato Gaúcho, atual técnico do Fluminense, em entrevista recente foi bastante direto ao comentar o tema.
“ A gente tem treinadores competentes no Brasil. O problema é que não dão tempo, não dão estrutura e agora resolveram endeusar qualquer um que venha de fora com sotaque bonito. Isso é moda. Futebol não e ganha com PowerPoint”, alfinetou o treinador tricolor.
Já Tite, ex-técnico do Brasil, prefere adotar um tom mais diplomático em seu comentário:
“Não é uma questão de nacionalidade. É preciso reconhecer as boas ideias, sejam de onde for. O que preocupa é a falta de continuidade e planejamento nos clubes, algo que prejudica qualquer profissional”, salientou Tite.
RESULTADOS E MERCADO: A EQUAÇÃO DOS DIRIGENTES SOBRE O TEMA
O que mais se pode constatar é a imensa pressão por resultados nos clubes brasileiros. Com a chegada de investidores estrangeiros e a instalação das SAFs no futebol em nosso País, a procura por treinadores com um “lastro internacional” tornou-se de repente sinônimo de modernidade e profissionalismo.
A escolha é principalmente técnica, porém também tem a ver com marketing, perfil e gestão. Um estrangeiro costuma trazer mais torcida, investidores e projeção na mídia, pontos positivos na avaliação das diretorias dos clubes-SAF.
CAMINHO SEM VOLTA OU MODISMO?
Para muitos, a abertura do Brasil ao mercado internacional é uma tendência inevitável e que só crescerá nos próximos anos. O Brasileirão chegou a ter jogadores de 14 diferentes nacionalidades.
Entretanto, há quem veja tudo como uma fase, que mais cedo ou mais tarde poderá mudar. É o caso do colunista esportivo André Rocha, que comentou o assunto.
“Os resultados ainda são muito voláteis. Quando um técnico do exterior fracassa a cobrança é forte. Já vimos muitos indo embora sem deixar saudade”, lembrou o jornalista.
CONCLUSÃO
Em junho de 2025 a presença de técnicos do exterior em alguns dos maiores clubes do Brasil pode ser vista ao mesmo tempo como sintoma e causa da transformação mais profunda que atinge o País. Por outro lado, a principal pergunta não é se o treinador deve ser brasileiro ou estrangeiro, mas sim que tipo de futebol jogaremos e quem está de fato preparado para tais mudanças. É algo que só o tempo dirá.