
O calendário do futebol brasileiro segue como um dos temas mais debatidos entre dirigentes, torcedores e jogadores. No centro dessa discussão estão os campeonatos estaduais, realizados no início da temporada. Ao longo dos anos estas competições têm sofrido muito com o esvaziamento técnico, comercial e de público.
Enquanto parte dos clubes, treinadores e atletas defende o fim dessas competições, alegando que representam um entrave para o desenvolvimento do calendário nacional, outros querem sua manutenção com unhas e dentes. Estes se baseiam na tradição, rivalidade e importância histórica.
Neste texto veremos as diferentes posições e se há alguma solução para levantar novamente os estaduais.
CRÍTICOS
De um lado, estão os críticos dos estaduais. Entre eles, o técnico Rogério Ceni, atualmente no comando do Bahia, que declarou em uma entrevista recente a uma rede de Televisão brasileira.
“Os estaduais perderam muito do que já foram um dia. O desgaste físico e a falta de atratividade prejudicam até os grandes clubes, que muitas vezes preferem usar times alternativos. Precisamos de um calendário mais racional, que valorize as competições nacionais e continentais”.
A fala de Ceni reflete o pensamento de muitos dirigentes dos clubes da Série A, especialmente os que disputam Libertadores e Copa do Brasil desde o início do ano. O presidente do Athletico Paranaense, Mário Celso Petraglia, também já se posicionou contra os estaduais em diversas ocasiões:
“É inconcebível que o futebol brasileiro ainda fique preso a modelos do século passado. Os estaduais atrapalham. Precisamos pensar grande, como as ligas europeias”, defende.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pressionada por clubes e federações, ainda evita mexer drasticamente na estrutura atual, mas já há estudos internos para reformular o calendário nos próximos anos.
DEFENSORES DOS ESTADUAIS
Por outro lado, os defensores dos estaduais destacam a importância cultural, social e econômica dessas competições, especialmente para os clubes de menor expressão. Para o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, o estadual é fundamental:
“O Paulistão movimenta dezenas de cidades, gera empregos, renda e paixão. É um dos torneios mais assistidos do país. Não podemos olhar apenas para os grandes clubes e esquecer os pequenos”.
De fato, para clubes como Ferroviária, Caxias, Remo, Paysandu, entre outros, o estadual representa boa parte da temporada — e da receita. Sem estas competições, muitos times ficariam meses sem jogos oficiais.
Além disso, há a rivalidade regional, que ainda atrai torcedores em clássicos como Corinthians x Palmeiras, Grêmio x Internacional, Bahia x Vitória, entre outros.
NOVA FÓRMULA
O jornalista esportivo Mauro Cezar Pereira, conhecido por suas análises críticas, pondera: “Os estaduais precisam ser revistos, não extintos. Uma fórmula mais enxuta, com menos datas e maior atratividade, pode resgatar o interesse. Não adianta matar a tradição, mas é preciso adaptá-la.”
E os torcedores? Muitos também se dividem. Nas redes sociais, é comum ver debates acalorados. Parte da torcida dos grandes clubes prefere focar em competições de maior prestígio, mas há também quem ainda veja valor em vencer o time rival logo no começo do ano.
RECUPERAÇÃO OU ADEUS?
Especialistas apontam alguns caminhos para tentar recuperar o prestígio dos estaduais. Entre as propostas estão:
- Redução no número de participantes e de datas;
- Classificação via ranking ou torneios preliminares;
- Inclusão de categorias de base como forma de desenvolvimento;
- Premiações mais atrativas e transmissões inovadoras.
CONCLUSÃO
Enquanto o debate prossegue sem consenso à vista, os estaduais continuam existindo, mas com brilho bem menor em relação ao passado. A pergunta que fica é: será que o futebol brasileiro conseguirá encontrar o equilíbrio entre tradição e modernidade?