
Desde de maio deste ano, o noticiário esportivo tem sido dominado pela turbulência na cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Aparentemente a entidade máxima do esporte em nosso País ainda precisará de um tempo para superar todos os problemas que a corroeram.
A destituição de Ednaldo Rodrigues pela Justiça do Rio de Janeiro, devido a uma suspeita de falsificação da assinatura do Coronel Antônio Carlos Nunes em documento que permitia sua reeleição, precipitou uma crise institucional que pôs em xeque o real poder na autodenominada “liga do futebol”.
EDNALDO: DO PROTAGONISMO AO AFASTAMENTO
Ednaldo Rodrigues, contador e político baiano, assumiu a presidência interina da CBF em 2021, após o afastamento de Rogério Caboclo, e foi eleito em 2022.
Apesar de sua reeleição unânime em março de 2025, logo surgiram denúncias graves, como demissões arbitrárias, perseguição interna e influência crescente dos interesses do governo federal dentro da CBF.
A revista Piauí chegou a comparar sua gestão a um “regime fechado”, citando denúncias de censura a jornalistas e perseguição a críticos, como ocorreu com comentaristas da ESPN após falarem sobre irregularidades internas
Na esfera jurídica, após reintegração em janeiro de 2024 por decisão do ministro Gilmar Mendes – que homologou um acordo entre a CBF e o Ministério Público – Ednaldo acabou derrubado novamente em maio deste ano, dessa vez por decisão do desembargador Gabriel Zéfiro, que considerou o acordo nulo devido à possível falsificação.
O JOGO DE BASTIDORES
Com a destituição, quem assumiu interinamente foi Fernando José Sarney, vice-presidente da entidade e filho do ex-presidente da república José Sarney. Ele foi nomeado interventor com a missão de organizar novas eleições até meados de junho.
Mas a transição não foi pacífica: Sarney foi quem protocolou a ação contra Ednaldo e liderou o pleito que o derrubou. Isso levantou suspeitas sobre possível conflito de interesses e articulações políticas para consolidar seu próprio poder.
SAMIR XAUD, NOME DA ESTABILIDADE?
Também em maio, a eleição foi vencida por Samir de Araújo Xaud, 41 anos, médico e dirigente da Federação de Roraima, com apoio de 25 das 27 federações estaduais e clubes como Vasco, Palmeiras e Grêmio.
Mesmo tendo sido candidato único, enfrentou críticas de clubes e entidades que boicotaram a chapa, como a Federação Paulista
Xaud assumiu com o discurso de trazer estabilidade e profissionalização ao futebol — prometendo autonomia para as seleções e investimento em futebol feminino e arbitragem.
LOBBY, PODER POLÍTICO E GESTÃO DA SELEÇÃO
O futebol brasileiro sempre foi palco de alianças entre cartolas, política e governos. Durante a gestão de Ednaldo, segundo opositores, houve forte ligação com o Planalto, com indicações de cargos influenciadas por grupos ligados ao governo Lula, e até pressão sobre figuras como Romário para entrada em partidos como o PL.
Ex-jogadores históricos, ministros do STF e dirigentes partidários passaram por reuniões no complexo do parque aquático à beira da sede da CBF, alimentando conexões entre decisões esportivas e articulação política, o que afeta desde organização de campeonatos menores à montagem da Seleção.
A nomeação de Carlo Ancelotti como técnico, negado pela gestão anterior, foi diretamente atribuída à influência de Ednaldo, o que evidenciou o impacto desses bastidores na formação da equipe nacional.
IMPACTOS DENTRO DE CAMPO
A instabilidade institucional da CBF aparentemente repercutiu na performance da seleção. Desde a eliminação precoce na Copa do Catar, passou-se por transições entre técnicos, mudanças de comissões técnicas, negociações políticas por posições no comando e interferências até no calendário de amistosos.
Isso contribui para um ambiente de incerteza, afetando a preparação do time de forma direta — algo que preocupa torcedores e especialistas, especialmente com a proximidade da Copa do Mundo de 2026. A seleção assegurou a classificação para o mundial, mas teve seu pior desempenho na história das eliminatórias.
PRÓS E CONTRAS
- Prós do novo comando de Xaud:
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- “Estabilidade institucional é essencial para que seleções trabalhem com autonomia”, afirma Xaud.
- Dirigentes de clubes como Palmeiras e Grêmio elogiam a proposta de profissionalização e inclusão do futebol feminino no planejamento.
- Contras apontados por críticos:
- A oposição vê na eleição sem adversário e no apoio quase fechado das federações um sinal de “cartolagem controlada”, o mesmo modelo antigo, apenas trocando os nomes por figuras menos controversas.
- Advogados e jornalistas lutam para que o novo presidente responda publicamente sobre seu possível alinhamento político com grupos influentes de Brasília, exigindo transparência.