
A discussão sobre o aproveitamento de grandes estádios de futebol no Nordeste do Brasil tem ganhado espaço em debates esportivos, econômicos e culturais.
Em uma região marcada pela paixão pelo futebol, a necessidade de tornar essas estruturas mais sustentáveis e multifuncionais, segundo os especialistas, é cada vez mais evidente.
A transformação de estádios em arenas multiuso pode gerar retorno financeiro, fortalecer o turismo local e dinamizar a economia das cidades que os abrigam.
O Nordeste abriga dezenas de estádios distribuídos pelos nove estados da região, como mostra o levantamento mais recente de infraestrutura: são 51 na Bahia, 42 no Ceará, 39 em Pernambuco, e dezenas em outros estados como Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe, totalizando mais de 240 só na região.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES: PARA ONDE IR?
Apesar da quantidade, muitos desses estádios ainda operam com foco quase exclusivo em partidas de futebol. A falta de uso contínuo em dias sem jogos limita receitas e restringe o potencial de impacto local.
Cientes disso, alguns gestores públicos e setor privado têm buscado alternativas para ampliar a utilização desses espaços para eventos culturais, shows, convenções e atividades corporativas.
“O futebol é apenas uma parte da equação. Precisamos pensar em arenas que funcionem como centros de encontro para a sociedade, o que inclui shows, feiras e eventos empresariais”, afirma Marina Furtado, consultora em gestão esportiva e membro do Comitê de Infraestrutura da Federação Nordestina de Futebol. Segundo ela, isso tornaria os equipamentos mais rentáveis e diminuiria a pressão por recursos públicos em sua manutenção.
Algumas arenas já servem de exemplo para esse conceito. É o caso da Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata (PE), construída para a Copa do Mundo de 2014 e com capacidade para cerca de 44 mil pessoas.
O estádio foi projetado desde o início com foco multiuso e adaptado para receber shows, convenções e feiras corporativas, além de jogos de futebol, é claro.
ORGULHO DO NORDESTE: ARENA FONTE NOVA é REFERÊNCIA
Em Salvador, a Arena Fonte Nova é apontada por especialistas como um exemplo de espaço que conseguiu mesclar futebol de alto nível com eventos diversificados.
Inaugurada em 2013 no lugar do antigo Estádio Octávio Mangabeira, a arena foi projetada com foco em versatilidade, possibilitando a realização de shows de artistas nacionais e internacionais, congressos, eventos culturais e encontros de negócios.
Entre os muitos espetáculos realizados na Fonte Nova, destacam-se shows de Paul McCartney, Elton John e Ivete Sangalo, que reuniram milhares de pessoas e mostraram o potencial do espaço para além do esporte.
Para Carlos Ribeiro, produtor cultural que trouxe grandes shows para o Nordeste, o sucesso desses eventos em arenas como a Fonte Nova indica que “há uma demanda reprimida por grandes espetáculos na região — e os estádios têm estrutura para atender isso, desde que haja planejamento e política pública adequada”.
O “GIGANTE DA BOA VISTA”: CASTELÃO E SUA FUNÇÃO PARALELA
O Estádio Governador Plácido Castelo, mais conhecido como Arena Castelão em Fortaleza (CE), também é citado como um modelo de uso mais amplo.
Com capacidade de mais de 57 mil espectadores, o Castelão passou por grandes reformas para a Copa do Mundo de 2014 e, desde então, tem sido usado não apenas como palco de futebol, mas também para eventos culturais e sociais.
Segundo Rogério Pinheiro, secretário de Esporte e Juventude do Ceará, “o Castelão não é apenas um estádio. Ele já sediou dezenas de partidas oficiais de diferentes competições e tem potencial para shows e eventos corporativos, embora ainda não explore todo esse potencial”.
De fato, iniciativas pontuais já aconteceram, como a redução de vagas de estacionamento para montagem de palco para o show Buteco do Gusttavo Lima, o que demonstra a capacidade do estádio de se adaptar para fins culturais.
DEBATE POLÍTICO E INCENTIVOS
O debate sobre como aproveitar melhor esses espaços também tem ganhado tração política. Na Câmara dos Deputados, projetos como o PL 4.558/2024, que trata da concessão de estádios desativados ao setor privado com foco em revitalização e eventos sociais, receberam parecer favorável em comissões.
No âmbito estadual, iniciativas como a Lei nº 19.115, aprovada em Pernambuco, refletem a preocupação com a segurança nos eventos esportivos e culturais, criando mecanismos para combater a violência e tornar a experiência mais segura para públicos amplos.
COMO POTENCIALIZAR O FUTURO: ESTRATÉGIAS PRÁTICAS
O aproveitamento dos estádios do Nordeste como arenas multiuso exige um conjunto de estratégias interligadas:
Parcerias Público-Privadas (PPP): ampliar concessões para empresas especializadas em eventos para gerir com foco em diversificação.
Infraestrutura de apoio: melhorar transporte, acessibilidade e serviços (como Wi-Fi, áreas gastronômicas e espaços corporativos) para tornar o local atraente para grandes eventos.
Política de incentivos fiscais: redução de impostos para eventos culturais e esportivos pode aumentar a atratividade.
Planejamento integrado com o turismo local: vincular eventos em estádios com roteiros turísticos e calendário cultural regional criaria sinergias entre setores.
CONCLUSÃO
O Nordeste possui um rico patrimônio de estádios que carregam história e paixão, mas que muitas vezes carecem de uso contínuo para além dos jogos de futebol.
A transformação em arenas multiuso — como demonstrado na Arena Fonte Nova e nas possibilidades do Castelão e da Arena Pernambuco — mostra que essa mudança não só é possível, como desejável.





























