O impacto das SAFs no futebol brasileiro em 2025: risco ou salvação?

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sociedade anônima do futebol

Desde a aprovação da Lei das SAFs (Sociedade Anônima do Futebol) em 2021, o futebol brasileiro vive uma profunda transformação em termos de gestão e governança.

O modelo, que permite a conversão de clubes em empresas com fins lucrativos, atraiu investidores nacionais e internacionais, prometendo profissionalização, investimento em infraestrutura, modernização administrativa e saneamento de dívidas.

Mas, passados quatro anos da implementação em larga escala, a pergunta permanece: as SAFs são a salvação do futebol brasileiro ou representam um risco silencioso?

O crescimento das SAFs no futebol brasileiro até 2025

Em 2025, 17 clubes brasileiros já operam oficialmente como SAF, incluindo gigantes como Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Bahia. Estes clubes receberam aportes bilionários e passaram a seguir modelos de governança mais rígidos, com metas de desempenho esportivo e financeiro.

Segundo levantamento da Sports Value:

  • As SAFs movimentaram R$ 3,5 bilhões em investimentos diretos até o início de 2025.

  • Os clubes SAF reduziram, em média, 38% de suas dívidas anteriores ao modelo.

O presidente da Liga Forte Futebol, Juliano Belletti, destacou:

As SAFs vieram para dar fôlego financeiro a clubes que estavam à beira da falência. Mas, como todo modelo, exigem responsabilidade, planejamento e respeito à cultura do clube.

Casos de sucesso: Botafogo, Cruzeiro e Bahia

Botafogo – A revolução de John Textor

Desde que o empresário americano John Textor assumiu o controle da SAF do Botafogo, o clube carioca passou de rebaixado em 2021 para:

  • Campeão brasileiro e da Libertadores em 2024.

  • Aumento de 140% na receita anual.

  • Modernização do Estádio Nilton Santos e do centro de treinamento.

O Botafogo é um case global. Saímos do caos administrativo para o protagonismo na América do Sul. O Textor trouxe uma mentalidade vencedora e empresarial.
– Destacou Thiago André, jornalista da Rádio Globo.

Cruzeiro – Da crise à reestruturação exemplar

Após anos de caos financeiro, o Cruzeiro, sob a SAF inicialmente liderada por Ronaldo Fenômeno, conseguiu:

  • Saldar 80% das dívidas trabalhistas

  • Inaugurar o novo CT Toca III, referência em infraestrutura.

O Cruzeiro é outro clube. A SAF trouxe transparência, planejamento e resgatou a autoestima do torcedor.
– Comentou Pedro Martins, diretor de futebol do clube.

Bahia – O modelo City Football Group

O Bahia foi adquirido pelo grupo que controla o Manchester City, e em apenas dois anos:

  • Retornou à Libertadores após 35 anos.

  • Criou um departamento de futebol com padrão europeu.

  • Aumentou em 200% a base de sócios-torcedores.

Riscos e desafios do modelo SAF no Brasil

Apesar dos casos positivos, o modelo de SAF também trouxe alertas importantes:

  • Perda de identidade e protagonismo do torcedor.

  • Riscos jurídicos e comerciais em contratos mal estruturados.

  • Dependência total de investidores estrangeiros.

  • Falta de fiscalização de alguns modelos questionáveis em clubes menores.

O sociólogo esportivo Mário Sérgio Moura alerta:

O modelo SAF não é uma panaceia. Sem regulação forte e sem cultura de governança, há o risco de clubes virarem apenas ativos de mercado, perdendo sua alma e seus valores históricos.

SAFs e o papel do torcedor em 2025

A figura do torcedor mudou em muitos clubes SAF, passando a atuar mais como consumidor de conteúdo e produtos do que como sócio com poder de decisão. Alguns movimentos de torcidas organizadas cobram mais transparência e participação em conselhos consultivos.

Conclusão: salvação ou risco?

O modelo SAF tem mostrado que pode, sim, ser uma ferramenta de reestruturação e modernização do futebol brasileiro, mas exige:

  • Governança séria.

  • Contratos equilibrados.

  • Preservação da identidade cultural dos clubes.

  • Participação ativa dos torcedores.

Sem esses pilares, o que pode parecer uma solução, pode gerar vários problemas, apenas sob uma roupagem empresarial.

Em 2025, as SAFs representam mais uma oportunidade do que uma ameaça, mas cabe ao futebol brasileiro garantir que essa oportunidade seja aproveitada de maneira responsável e sustentável.