A Arábia Saudita no futebol: verdadeira ascensão ou bolha artificial?

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Sauditas
Foto: Yasir_bin_Othman_Al-Rumayyan (Wikipedia)

A contratação de superestrelas do futebol mundial como Cristiano Ronaldo, Benzema, Mahrez e Neymar, por exemplo, para atuarem na Liga Saudita nas últimas temporadas tem elevado o patamar do país no mundo do esporte mais popular do planeta.

Porém, o que muitos questionam é se essa “revolução”, financiada majoritariamente pelo petróleo, será duradoura ou trata-se apenas de uma fase temporária que não criará raízes.

O QUE IMPULSIONOU O CRESCIMENTO?

O grande motor é o Public Investment Fund (PIF), um fundo soberano ligado diretamente ao governo saudita, com Yasir bin Othman Al-Rumayyan à frente – que assumiu 75 % de gigantes como Al‑Hilal, Al‑Nassr, Al‑Ittihad e Al‑Ahli.

Desde 2021, o PIF investiu bilhões em renovações, estádios, academias e em jogadores de destaque internacional. Isso faz parte da Visão 2030, que busca reduzir a dependência do petróleo e tornar os esportes uma fonte de renda não-petrolífera, com meta de contribuir com cerca de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões até 2030.

FONTES QUE ACREDITAM QUE A TENDÊNCIA VEIO PARA FICAR
  • Economista esportivo Peter Daire (PwC Middle East):
    “Os eventos e partidas da SPL têm atraído atenção global e foram fundamentais para atrair investimento e turismo… o setor esportivo da Arábia Saudita deve contribuir com até US$ 5,9 bi até 2030”.
  • Jordan Gardner (Twenty‑First Group):
    “A estratégia está funcionando e os resultados continuarão a aparecer. A receita da liga saltou 650 % em poucas temporadas, com dezenas de acordos de transmissão internacional”.
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
  • Simon Chadwick (SKEMA Business School):
    “Gastar com jogadores caros e famosos é, em última análise, uma busca financeiramente onerosa… retornos comerciais antecipados,,,até agora falharam na recuperação”.
  • James Dorsey (Middle East Institute):
    “Eles se puseram no mapa… agora é questão de como sustentar isso”. Ele compara a situação com ligas da China e Japão, que tiveram boom e depois retração.
  • Especialistas também alertam que, sem investimentos contínuos em base, tecnologia e talentos locais, depender só dos astros envelhecidos não garante durabilidade.
EXEMPLOS RECENTES
  • Vitória histórica do Al‑Hilal sobre o Manchester City (4 x 3) no Mundial de Clubes, com técnico Simone Inzaghi chamando a vitória de “como escalar o Everest sem oxigênio”. Isso mostra desenvolvimento tático e qualidade competitiva crescente.
  • A criação do Neom SC, ligado ao ambicioso projeto urbano de mesmo nome, simboliza o alcance da estratégia esportiva para além dos clubes tradicionais.
CONSEGUIRÃO SE MANTER NO TOPO?

Para ser sustentável, a SPL precisa:

  1. Diversificar receitas – tornando público o comércio de direitos de mídia, patrocínios e bilheterias;
  2. Formar talentos locais, não apenas comprar ídolos em fim de carreira;
  3. Manter a estrutura profissional, com privatização eficaz, boas infraestruturas, e gestão independente do Estado.

Sem isso, a liga pode enfrentar problemas quando os aportes do petróleo se reduzirem.

CONCLUSÃO

A Arábia Saudita já se firmou no radar global do futebol com investimentos e resultados concretos. Todavia, o futuro depende de aprofundar a estrutura e criar uma economia sustentável que ultrapasse o ciclo curto de contratações milionárias.