
Em julho de 2025, a disputa entre a Liga do Futebol Brasileiro (LFU) – composta por vários clubes das Séries A e B – e as tradicionais federações estaduais segue no centro da política do futebol nacional.
A definição do calendário anual e o controle dos direitos de transmissão tornaram-se pontos de forte tensão, com implicações diretas na política, na economia e nos interesses dos clubes e das mídias.
CALENDÁRIO APERTADO: ESTADOS VS BRASILEIRÃO
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou, em novembro de 2024, um calendário que se estende por 10 meses – com início em janeiro para os Estaduais e término em dezembro, após a Série A – incluindo uma parada para o Mundial de Clubes entre 15 de junho e 13 de julho.
Embora a maioria das federações tenha aprovado o plano , São Paulo e Rio manifestaram resistência, alegando que os Estaduais são fundamentais financeiramente e precisam de planejamento mais razoável.
Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, foi enfático: “Gostaria de acreditar, mas sou cético quanto à CBF”, declarou a um órgão da imprensa esportiva carioca.
Ele reclama da antecipação exagerada em 8 de janeiro, que, segundo ele, prejudica planejamento e descanso dos atletas. Enquanto isso, Em Mato Grosso do Sul, o presidente interino Estevão Petrallas exigiu “autorização especial” para manter o Estadual na extensão tradicional.
DIÁLOGO
Em nota, a CBF disse ter promovido “diálogo exaustivo com as Federações e a Comissão Nacional de Clubes”, incluindo clubes de Série A e convidados como Flamengo, Palmeiras e São Paulo, para aprovação do modelo. O ex-presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues reforçou quando ainda estava no cargo: “Conseguimos com muito diálogo fazer um calendário melhor para clubes, federações, atletas, dirigentes e fãs do futebol brasileiro”. Mas a frase não convenceu completamente os estaduais de maior impacto, especialmente SP e RJ.
TRANSMISSÕES: LIGA MOSTRA FORÇA E IMPÕE ALTERNATIVAS
Enquanto a CBF cuida do calendário, a Liga Forte União – que reúne vários dos principais clubes do País – garantiu contratos milionários para transmissão da Série A.
A Rede Record, por exemplo, fechou para exibir um jogo por rodada, enquanto Google/YouTube e Amazon Prime asseguraram pacotes via streaming. A Globo também garantiu pacote, incluindo nove jogos nas suas plataformas (TV aberta, SporTV e Premiere).
O novo arranjo profit-sharing atingiu R$ 1,5 bilhão em contratos com a LFU, dos quais R$ 850 milhões ficam com a principal emissora de TV do Brasil. Com isso, a tradicional divisão estadual perdeu parte de sua força na negociação de direitos regionais. Já os Estaduais continuam com contratos com Record, Globo, Band e outros canais regionais, mas sem a mesma capilaridade nem apelo econômico.
VIAS DE TENSÃO: CALENDÁRIO E DINHEIRO
A pressão da LFU sobre a CBF e as federações tem incitado debates acalorados. Um dirigente anônimo citado pela Máquina do Esporte alertou que “com essa mudança, a CBF acaba com a pré-temporada dos clubes. E isso pode prejudicar desempenho e gerar lesões”. Um outro exemplo emblemático: a Federação de MS luta para manter seu estadual sem perdas no número de datas.
No Reddit, o sentimento é forte. Um usuário comentou, em dezembro de 2024, que o atual modelo favorece os Estaduais e sua sobrevivência política dentro da CBF, em detrimento dos clubes:
“Foram 5 jogos decisivos em 16 dias… a culpa disso… cai nos ombros da CBF e do Ednaldo, que prefere priorizar estaduais em prol das federações… quase impactou Corinthians ou Bahia”.
Outro debate, em março de 2025, destacou a dificuldade de lançar uma Liga sem apoio das federações:
ALGUMAS FALAS SOBRE O TEMA
Reinaldo Carneiro Bastos (Federação Paulista), criticando o cronograma:
“Não é razoável iniciar em 8 de janeiro… jogadores precisam de tempo para se planejar.”
Estevão Petrallas (Federação de Mato Grosso do Sul), sobre a necessidade de manter datas:
“O Estadual de MS não compete… pode buscar a extensão do período previsto.”
O QUE ESTÁ EM JOGO E O QUE VEM POR AÍ
- Calendário: A pressão da Liga para forçar as federações a encurtarem Estaduais; as maiores resistências vêm de SP, RJ e RS. A CBF deve mediar para evitar judicialização ou atrasos.
- Transmissões: A LFU controla grande parte dos direitos da Copa e Brasileirão; federações agora precisam renegociar pacotes estaduais, mas sem o mesmo peso econômico.
- Poder e representatividade: Embora a LFU tenha conquistado ganhos expressivos, o sistema de votação da CBF ainda exige consenso com as federações, tornando qualquer reforma lenta e sujeita a barganhas.
CONCLUSÃO
A tensão entre Federação e Liga revela um embate entre tradição e modernização. De um lado, os estaduais clamam por autonomia e continuidade, com contratos e estruturas consolidadas.
Do outro, a Liga, movida por clubes com apetite por globalização, receita e racionalização de calendário, avança na agenda de reformas. Em 2025, esse conflito está longe de ser resolvido, mas já define o futuro do futebol brasileiro.