O efeito SAF nos clubes médios: solução ou ilusão?

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SAF
Imagem: Divulgação

Menos de cinco anos após a popularização das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) no Brasil, clubes médios como América-MG, Avaí e Goiás vivem uma encruzilhada. Entre promessas de estabilidade financeira e resultados aquém das expectativas, a transformação institucional começa a ser posta à prova. Afinal, para estas agremiações, trata-se de uma solução ou apenas uma ilusão?

Abaixo destacamos um pouco da trajetória destes clubes e o que a SAF tem realmente gerado em termos de transformações. O modelo gerencial tem valido a pena?

O CASO AMÉRICA (MG)

No caso do América (MG), que adotou o modelo SAF no início de 2023, os efeitos são ambíguos. Fora das competições internacionais desde a Sul-Americana de 2022, o clube luta na parte intermediária da tabela da Série A em 2025.

A estrutura do CT Lanna Drumond melhorou, houve modernização da fisiologia e a folha salarial cresceu 22% desde 2023. Mas os resultados dentro de campo ainda não convenceram.

“O projeto é de longo prazo, mas o torcedor quer resultado. A gente sente isso em campo”, admitiu o volante Juninho ex-capitão do time, após o empate em casa com o Amazonas, na 15ª rodada da Série B em 2024.

Segundo Gustavo Magalhães, a pressão imediata é compreensível, mas o foco é a sustentabilidade. “Estamos priorizando equilíbrio financeiro e formação de atletas. Não adianta montar elencos caros e virar refém de resultados. Nosso modelo prevê colheita real a partir de 2026”, afirmou.

GOIÁS E AVAÍ

O Goiás, que firmou seu acordo com um grupo de investidores portugueses no fim de 2022, também ilustra os limites da SAF. Após um rebaixamento em 2023, o clube voltou à Série A, mas com orçamento ainda limitado, caiu novamente para a divisão de acesso.

“O investimento existe, mas é controlado. A SAF aqui não virou sinônimo de supertime. Estamos investindo na base e no entorno do estádio”, explicou o presidente do Conselho Administrativo, Sandro Ramos, destacando que parte da receita com a venda do jovem atleta Luiz Filipe foi usada na construção de um novo bloco médico no CT Edmo Pinheiro.

Já o Avaí, primeiro clube de Santa Catarina a se tornar SAF, optou por um modelo híbrido. O clube vendeu 70% das ações a um fundo de investimentos brasileiro, mas manteve a presidência com dirigentes tradicionais. O clube está no G-4 da Série B, com boas chances de voltar á elite no ano que vem.

“O torcedor ainda se pergunta: onde está o dinheiro? Mas o torcedor também percebe que o clube parou de atrasar salário e passou a ter mais transparência. A SAF trouxe isso”, avaliou Eduardo Costa, ex-jogador e coordenador técnico do Avaí.

OPINIÕES DE TORCEDORES

Mesmo com os avanços estruturais, torcedores seguem divididos. Nas arquibancadas do Independência, Lucas Trindade, torcedor do América (MG) há 20 anos, expressa frustração: “A SAF chegou, prometeram tudo… mas cadê o título, cadê a Libertadores? Parece que virou só uma empresa, e o futebol ficou em segundo plano.”

Especialistas, por sua vez, reforçam que os clubes médios enfrentam uma realidade distinta dos gigantes que também se tornaram SAFs, como Botafogo e Cruzeiro. “Esses clubes têm menos atratividade para investidores estrangeiros, então o impacto da SAF será mais lento e exigirá muito mais gestão profissional do que simplesmente aporte financeiro”, analisa o economista esportivo Rodrigo Capelo, colunista esportivo.

CONCLUSÃO

Aos poucos, fica claro que a SAF, por si só, não é uma solução mágica ou uma panaceia. O modelo depende da seriedade do investidor, da continuidade de boas práticas administrativas e de uma compreensão profunda de que o futebol, embora negócio, ainda pulsa no ritmo do campo e das arquibancadas.