O milagre verde e a virada que reafirmou a supremacia brasileira na Libertadores

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Botafogo campeão libertadores 2024
Botafogo, campeão da Libertadores em 2024/ Foto: B.F.R

O futebol sul-americano na noite da última quinta-feira testemunhou mais um capítulo épico da Taça Libertadores. O Palmeiras, sob o comando do português Abel Ferreira, protagonizou uma das maiores reviravoltas da história do torneio. Após perder por 3 x 0 para a LDU, em Quito, o Verdão precisava de um verdadeiro milagre no Allianz Parque. E foi o que aconteceu.

Com um 4 x 0 inesquecível, o clube paulista reverteu a desvantagem, garantiu vaga na final e confirmou a continuidade da hegemonia brasileira na competição continental.

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O feito palmeirense não é apenas uma vitória esportiva, mas também um símbolo da mentalidade competitiva que Abel implantou desde sua chegada em 2020. Como o próprio técnico afirmou após a partida, com lágrimas nos olhos: “Enquanto acreditarmos, nada é impossível. O futebol é dos que têm fé e coragem.”

Com a classificação, o Palmeiras enfrentará o Flamengo na final de dezembro, em Lima, reeditando uma rivalidade recente que já decidiu a Libertadores em 2021, com triunfo dos paulistas. E, mais uma vez, o duelo será totalmente brasileiro, algo que tem se tornado rotina desde 2019.

A HEGEMONIA BRASILEIRA NO CONTINENTE

O domínio do futebol brasileiro na Libertadores é um fenômeno impressionante. Desde a conquista do Flamengo em 2019, os clubes do país não deram chance a rivais estrangeiros. Palmeiras (2020 e 2021), Flamengo (2022), Fluminense (2023) e Botafogo (2024) mantiveram a coroa em território nacional.

Com o título do Fogão no ano passado, o Brasil chegou a 24 conquistas e em 2025 igualará o número da Argentina, até então líder isolada na galeria de campeões. Desde o River Plate em 2018, nenhum clube de fora do país voltou a levantar o troféu mais cobiçado do continente.

A supremacia brasileira não se limita às conquistas, mas também à presença maciça nas fases decisivas. Semifinais e finais totalmente nacionais tornaram-se comuns, algo impensável há pouco mais de uma década.

O ex-jogador e comentarista argentino Juan Pablo Sorín reconheceu essa superioridade: “Os clubes brasileiros conseguiram montar estruturas e elencos que hoje estão acima do resto da América do Sul. Eles tratam a Libertadores como prioridade absoluta.”

OS PILARES DO SUCESSO

Há várias explicações para o domínio verde e amarelo. A primeira delas é o poder financeiro, impulsionado pelos acordos milionários de transmissão, a venda de jogadores para a Europa e o fortalecimento das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), que trouxeram estabilidade e gestão moderna.

O segundo fator é o nível técnico dos elencos. Jogadores que antes partiam cedo para o exterior agora permanecem mais tempo, como Dudu, Arrascaeta, Raphael Veiga e Pedro. Isso dá continuidade ao trabalho e eleva o padrão competitivo.

TREINADORES

O terceiro pilar é a qualidade dos técnicos estrangeiros que chegaram ao País, especialmente os portugueses. Abel Ferreira (Palmeiras), Jorge Jesus (Flamengo), Luís Castro e Artur Jorge (Botafogo), entre outros, introduziram métodos de treino e disciplina tática que transformaram seus clubes.

Como afirmou Jorge Jesus, campeão em 2019 com o Flamengo: “No Brasil, há talento de sobra. O que faltava era organização e intensidade. Quando se junta isso, é natural que o sucesso apareça.”

Além disso, a CBF tem ajustado o calendário para permitir mais tempo de preparação entre os jogos decisivos da Libertadores, um luxo que equipes de outros países raramente têm.

A DIFERENÇA ENTRE CLUBES E SELEÇÃO

Mas se o Brasil domina entre clubes, por que a seleção brasileira não consegue repetir o sucesso no cenário mundial? Essa é a grande contradição do futebol atual.

A Argentina, com Messi à frente, conquistou a Copa do Mundo de 2022 e também a Copa América, superando o próprio Brasil no Maracanã. Enquanto isso, a Seleção Canarinho acumula decepções e trocas de comando.

O comentarista uruguaio Martín Charquero sintetizou bem: “Os clubes brasileiros vivem seu auge porque investem em continuidade e estrutura. Já a seleção sofre com interrupções e decisões políticas.”

FALTA DE ENTROSAMENTO

Outro fator é que os principais craques da seleção atuam fora do País e raramente convivem por longos períodos. O entrosamento que os clubes têm não se repete na equipe nacional.

Por outro lado, os clubes argentinos, mesmo com recursos menores, mantêm uma identidade tática e emocional muito forte, o que se reflete no desempenho da seleção. O técnico Lionel Scaloni soube aproveitar essa base de competitividade interna.

Como disse Marcelo Gallardo, bicampeão da Libertadores com o River Plate: “O futebol argentino vive de adversidade. O brasileiro vive de talento. Quando esses dois mundos se cruzam, o equilíbrio é quem vence.”

O FUTURO DA LIBERTADORES E O DESAFIO CONTINENTAL

O domínio brasileiro parece longe de acabar. Flamengo e Palmeiras chegam novamente à final com elencos poderosos e técnicos consolidados. O investimento em infraestrutura, categorias de base e análise de desempenho tende a aumentar ainda mais a distância para os rivais.

Entretanto, há sinais de alerta. A Conmebol estuda limitar o número de estrangeiros por elenco e rever critérios de distribuição de cotas, medidas que podem buscar equilibrar o torneio. Além disso, clubes como River Plate, Boca Juniors e Independiente del Valle seguem competitivos e podem surpreender.

Abel Ferreira, sempre reflexivo, resumiu o espírito da era atual: “A Libertadores é uma guerra de emoções. E quem souber sofrer, vence.”

CONCLUSÃO

Com o Palmeiras garantido em mais uma final e o Brasil igualando a Argentina em títulos, o futebol sul-americano vive uma nova era — a era brasileira.

A conquista da vaga pela LDU para muitos parecia certa, mas o “milagre palmeirense” reforçou que, no continente, jamais se deve duvidar da força dos clubes do Brasil, em especial com um grande técnico como Abel Ferreira no comando.

O desafio, agora, é transformar esse domínio em inspiração também para a seleção nacional, que sonha em retomar o protagonismo mundial. Se a disciplina de Abel Ferreira, a paixão de Jorge Jesus e o talento dos jogadores brasileiros se encontrarem sob a mesma bandeira, talvez o próximo “milagre” aconteça em outra esfera: a da Copa do Mundo.