
Palmeiras e Flamengo chegam novamente a uma final de Libertadores, desta vez em Lima, no Peru, neste sábado, às 18 horas, o que consolida uma hegemonia que marca profundamente a década.
A presença recorrente desses dois clubes nas decisões no continente alimenta teorias sobre uma possível “espanholização” do futebol brasileiro, fenômeno em que apenas dois gigantes monopolizam os títulos, à moda de Real Madrid e Barcelona na Espanha.
No entanto, o contexto brasileiro apresenta nuances que relativizam essa ideia: Botafogo e Fluminense venceram a Libertadores nos últimos anos, e o próprio alvinegro carioca conquistou o Brasileirão de 2024, mostrando que existe espaço para que outros projetos, bem executados, interrompam o binômio.
Ainda assim, é inegável que Palmeiras e Flamengo atingiram um padrão de excelência estrutural, financeira e esportiva sem paralelo recente no continente — e essa ascensão mudou definitivamente o mapa competitivo da América do Sul.
PROFISSIONALIZAÇÃO E GESTÃO: O DNA DO SUCESSO
A primeira chave para compreender esse domínio é a profissionalização dos bastidores. Palmeiras e Flamengo são hoje modelos de governança.
Ambos reduziram dívidas, ampliaram receitas, modernizaram departamentos internos e passaram a investir de forma estratégica em estrutura, inteligência de mercado e categorias de base.
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, afirmou recentemente:
“Não existe hegemonia sem organização. O torcedor vê o time ganhar, mas por trás há processos, metas claras, auditoria, cobrança e investimento contínuo. O futebol brasileiro só vai crescer se os clubes encararem a gestão com rigor empresarial.”
No Flamengo, o discurso é semelhante. Luiz Eduardo Baptista, o Bap, presidente do clube carioca, destacou:
“O Flamengo entendeu que grandeza não é só torcida e estádio cheio, mas capacidade de gerar receita sustentável. Hoje temos planejamento de longo prazo e profissionais de alto nível em todas as áreas. Essa mudança nos trouxe estabilidade e ambição.”
MODELO ESPORTIVO E A FORMAÇÃO DE ELENCOS
Outro pilar é o modelo esportivo. Palmeiras e Flamengo dominam o continente não só pela força financeira, mas pela capacidade de montar elencos competitivos e renová-los de maneira inteligente.
Suas categorias de base transformaram-se em centros de excelência: ambos produziram talentos que alimentam o time principal, geram lucro em transferências e reduzem a dependência do mercado externo.
Além disso, os clubes desenvolveram departamentos de análise e scout profissionalizados, que garimpam atletas com potencial de adaptação rápida ao estilo de jogo pretendido.
MODERNIDADE
Na visão de Fernando Ferreira, especialista em economia do esporte e diretor da consultoria Pluri, o sucesso não é casual:
“Tanto Palmeiras quanto Flamengo entenderam que o futebol moderno exige ciência de dados, captação estratégica e integração total entre comissão técnica e direção. Eles não contratam por oportunidade, mas por encaixe técnico e financeiro.”
Essa lógica difere da prática comum em muitos clubes sul-americanos nas últimas décadas, marcadas por contratações pontuais, emergenciais e caras.
‘ESPANHOLIZAÇÃO’
A discussão sobre uma eventual “espanholização” do futebol brasileiro surgiu naturalmente com a repetição das finais de Libertadores envolvendo Flamengo e Palmeiras.
A crítica mais frequente é que o enorme abismo financeiro entre esses dois clubes e o restante da Série A tende a cristalizar a disputa de títulos entre eles.
FAVORITOS
Mas o cenário brasileiro não é idêntico ao espanhol. Botafogo e Fluminense provaram recentemente que é possível romper essa hegemonia com projetos esportivos consistentes e bem executados.
Ainda assim, a tendência estrutural aponta que Palmeiras e Flamengo seguirão entre os favoritos por muitos anos, e não por acaso. Construíram modelos de excelência que poucos clubes conseguem replicar no curto prazo.
CONSEQUÊNCIAS
O impacto desse domínio é duplo. Por um lado, fortalece o futebol sul-americano no cenário global: jogadores permanecem mais tempo no Brasil, atraem atenção internacional e valorizam o produto esportivo.
Por outro, pode gerar um distanciamento competitivo interno caso os rivais não consigam avançar em seus processos de modernização.
Para a seleção brasileira, o efeito é positivo: clubes estruturados oferecem ambiente mais propício ao surgimento de jovens de alto nível e mantêm atletas de elite atuando no país, aumentando o repertório de observação da comissão técnica.






















