
O futebol do Norte do Brasil está em ebulição por causa de dois momentos absolutamente opostos. Afinal, enquanto o Clube do Remo vive uma fase de sonho, brigando firme pelo acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, o Paysandu, seu maior rival, amarga o pior momento de sua história.
Com três rodadas de antecedência, o tradicional Papão da Curuzu teve o rebaixamento matemático confirmado para a Série C, selando uma campanha desastrosa, que chocou seus torcedores e envergonhou até mesmo ídolos históricos do clube.
O contraste entre as realidades de Remo e Paysandu nunca foi tão gritante. O Leão Azul, que não disputa a elite nacional há mais de 30 anos, ocupa o G-4 da Série B e tem o acesso ao alcance das mãos. Já o Papão, outrora orgulho da Região Norte, tornou-se sinônimo de fracasso e desorganização em 2025.
QUEDA ANUNCIADA: UM ANO DE ERROS E DESMANDOS
O rebaixamento não aconteceu por acaso. Desde o início da temporada, os sinais de que algo estava errado eram claros: planejamento falho, trocas constantes de treinadores e elenco limitado foram os ingredientes de uma tragédia anunciada.
Em janeiro, o clube prometia lutar pelo acesso. No entanto, a realidade mostrou-se cruel. Em 35 rodadas disputadas até aqui, o Paysandu somou pouquíssimos pontos, colecionando derrotas vexatórias e tendo o pior ataque e a pior defesa da competição.
O ex-jogador e ídolo bicolor Sandro Goiano, hoje comentarista esportivo em Belém, foi contundente em suas críticas. “O Paysandu perdeu sua identidade. Montou um time sem alma, sem liderança e sem comprometimento. A diretoria precisa entender que futebol se faz com seriedade e não com improvisos”, afirmou em entrevista recente.
TORCIDA REVOLTADA E CURUZU SILENCIOSA
Se antes a Curuzu era um caldeirão, nas últimas rodadas o estádio tem ficado cada vez mais vazio. A torcida, cansada de decepções, passou a protestar com faixas, vaias e até boicotes aos jogos. A paixão ainda existe, mas o sentimento dominante é de revolta.
“Eu nunca pensei que veria o Paysandu tão perdido. É triste demais. A gente ama esse clube, mas está difícil acreditar de novo”, desabafou Luciana Ferreira, torcedora há mais de 20 anos, enquanto deixava o estádio após mais uma derrota.
A pressão popular tem sido intensa. Dirigentes são alvos de críticas nas redes sociais, e a cobrança por mudanças estruturais cresce a cada dia.
DIRETORIA NA MIRA: FALTA DE PLANEJAMENTO E ESCOLHAS QUESTIONÁVEIS
A diretoria bicolor é apontada como a principal responsável pelo desastre. A troca constante de técnicos, foram quatro em menos de um ano, e contratações de jogadores sem identificação com o clube minaram o desempenho dentro de campo.
O ex-técnico Marcelo Chamusca, que comandou o time por dez rodadas antes de ser demitido, comentou a dificuldade de trabalhar no ambiente instável do Papão. “Faltou tempo, estrutura e principalmente convicção. Toda semana era uma pressão diferente, uma mudança de rota. Assim, é impossível construir um time competitivo”, declarou Chamusca.
A falta de um projeto esportivo sólido e de um departamento de futebol estruturado tornou o Paysandu refém da própria desorganização. As finanças do clube também não ajudam: dívidas salariais e atrasos em premiações desmotivaram ainda mais o elenco.
BRILHO DO REMO AGRAVA A FERIDA
Para piorar o cenário, o bom momento do Remo serve como incômodo contraponto. Enquanto o Paysandu cai, o rival vive uma das temporadas mais consistentes de sua história recente.
Sob o comando do técnico Guto Ferreira – carinhosamente apelidado de Gordiola –, o Leão Azul montou uma equipe equilibrada, com vários destaques individuais como o meia-atacante uruguaio Diego Hernandez, emprestado do Botafogo, e o artilheiro Pedro Rocha.
“O Remo hoje é exemplo de gestão e foco. Trabalharam em silêncio, planejaram bem e colheram os frutos. O contraste com o Paysandu é gritante”, analisou o jornalista Eduardo Maia, comentarista esportivo.
Nas redes sociais, os torcedores azulinos não perdoam: memes, provocações e até faixas exibidas no Baenão celebram a queda do arquirrival. Para o torcedor do Papão, além da tristeza do rebaixamento, resta suportar as gozações do vizinho.
FUTURO INCERTO, MAS POSSÍVEL
Apesar do caos, há quem ainda acredite em reconstrução. O ex-presidente do Paysandu, Alcyr Guimarães, defende que o momento deve servir de aprendizado. “O Paysandu é grande demais para permanecer caído. Mas é preciso começar do zero, profissionalizar o clube, apostar na base e reconquistar a confiança do torcedor”, afirmou.
O caminho, porém, é árduo. A Série C é um campeonato difícil, equilibrado e de orçamentos baixos. Para voltar à Série B, o Papão precisará de um planejamento sério, transparente e de um elenco que realmente vista a camisa.
LIÇÕES DE UM ANO PARA ESQUECER
O rebaixamento do Paysandu simboliza mais do que uma queda de divisão. É o reflexo de uma crise institucional profunda. Faltou comando, coerência e respeito à própria história. O clube que já representou o Norte em grandes campanhas, como na Libertadores de 2003, hoje serve de exemplo negativo de má gestão.
CONCLUSÃO
Enquanto o Remo sonha com o retorno à elite e o Pará vibra com a possibilidade de ver novamente um clube local entre os grandes, o Papão precisa olhar para dentro, corrigir rumos e reencontrar sua essência.
A rivalidade entre Remo e Paysandu sempre foi o coração do futebol paraense. Mas, neste momento, o contraste entre o céu azulino e o inferno bicolor é o retrato mais claro de como o sucesso e o fracasso andam lado a lado e como o futebol pode ser, ao mesmo tempo, cruel e apaixonante.



























