
A comparação entre os estilos europeus e sul-americanos é pauta constante entre especialistas, atletas e treinadores. Enquanto o futebol europeu é marcado pela disciplina tática, organização coletiva e eficiência, o sul-americano é frequentemente associado à criatividade, emoção e improviso individual.
Esses contrastes não apenas moldam jogos, mas também conduzem debates sobre qual modelo é superior ou mais eficaz. Porém, há quem defenda que tais diferenças estão se diluindo com a globalização no mundo do futebol. Abaixo abordaremos o tema com mais profundidade e algumas opiniões de especialistas.
EUROPA: ESTRATÉGIA, DISCIPLINA E EFICIÊNCIA
Na Europa, o foco tradicional recai sobre táticas organizadas e a execução quase cirúrgica. A herança de Arrigo Sacchi, ex‑técnico do Milan, ilustra bem essa filosofia, ao afirmar que prefere “pessoas com inteligência dentro do serviço da equipe” a jogadores individualistas sem controle tático.
Modelos como o famoso “tic‑tac” ou o sistema de Guardiola, privilegiam passes curtos, ocupação de espaços e pressão organizada.
EQUILÍBRIO
Michael Reiziger, ex‑lateral holandês e agora técnico, aponta que o futebol europeu evoluiu para um equilíbrio entre posse de bola e alta intensidade, demonstrando abertura à criatividade mesmo dentro de sistemas rígidos.
Por outro lado, Lionel Scaloni, técnico da Argentina, criticou o excesso de instruções detalhadas: “Acho que estamos perdendo a essência do futebol […], se você está sempre dizendo ao jogador o que fazer, existe o risco de tirar dele o que tem de melhor”.
O técnico do Bayern, Vincent Kompany, antes do duelo com o Flamengo no Mundial de Clubes, comentou a estrutura europeia e elogiou os sul-americanos:
“A gente sempre assume que o Bayern é favorito, mas não aceito essa narrativa, respeito muito o Flamengo – disciplinados, rápidos, fortes taticamente”.
AMÉRICA DO SUL: TALENTO, IMPROVISO E EMOÇÃO
Na América do Sul, segundo especialistas, prevalecem individualidades fortes e momentos de inspiração. O conceito de “relationism” – futebol mais fluido e argentino, popularizado por treinadores como Fernando Diniz – estimula movimentações em torno da posse, e não fixadas em posições rígidas.
Tal abordagem encoraja dribles, triangulações rápidas e troca dinâmica de funções, características do futebol brasileiro e sul-americano em geral.
O treinador da Seleção do Uruguai, Marcelo Bielsa, constantemente referência em debates táticos, afirmou que a lacuna entre os dois continentes é grande, apontando que muitos talentos sul-americanos saem cedo, “interrompendo seu processo formativo”.
Outro ponto de discussão é a formação de atacantes brasileiros – como atacantes clássicos – que perdem força ao migrarem precocemente à Europa, adequando-se a modelos táticos menos propícios ao seu estilo natural.
NO CAMPO: COMPARAÇÕES RECENTES
A atuação do Flamengo no Mundial de Clubes 2025 trouxe o tema em destaque. Os especialistas Arsène Wenger e Jürgen Klinsmann notaram que, embora taticamente competentes e organizados, as equipes sul-americanas ainda pecam na “execução clínica”, especialmente nas finalizações.
No entanto, o mesmo Flamengo surpreendeu ao vencer Chelsea por 3 x 1, chamando atenção por seu estilo ofensivo e disciplinado. Contra o Bayern de Munique nas oitavas de final, porém, o rubro negro foi envolvido pelos bávaros e perdeu de 4 x 2.
Alguns treinadores europeus têm migrado para a América do Sul. Jorge Jesus e Jorge Sampaoli são exemplos de técnicos da Europa, mais especificamente da Península Ibérica, que chegaram ao Brasil, integraram elementos táticos europeus ao estilo local e obtiveram sucesso imediato.
O ambiente sul-americano, segundo seu assistente francês Charles Hembert, incentiva os jogadores a se esforçarem mais, buscando uma chance de carreiras internacionais
ALGUMAS OPINIÕES
- Filipe Luís, técnico do Flamengo, ressaltou a “resiliência mental” dos jogadores brasileiros e seu comprometimento com a posse, contra o Bayern pela Club World Cup.
- Vincent Kompany, do Bayern, reconheceu o ritmo elevado e a disciplina tática do Flamengo, ainda que destacasse a força estrutural europeia.
- Arsène Wenger e Jürgen Klinsmann, ao comentar o evento, frisaram que o auge entre os continentes se estreita, mas a precisão europeia ainda é diferencial.
- Marcelo Bielsa, em debate online, criticou a migração precoce de jogadores e a perda de identidade tática sul‑americana.
- Lionel Scaloni, ao afirmar o risco de excesso de instruções, enfatizou a importância de preservar a essência do jogo.
CONCLUSÃO
A dualidade entre os continentes permanece, embora esteja ocorrendo uma mistura de estilos nos últimos anos. Ainda assim, o fato é que a Europa imprime o rigor tático, o preparo físico e a disciplina coletiva, enquanto a América do Sul oferece graça, inspiração individual e quesitos culturais únicos.
O confronto entre esses modelos é mais complementar que antagônico – uma fusão ideal integraria controle estrutural à criatividade, o que já se revela em experiências recentes de técnicos e equipes.
O melhor do futebol pode florescer da combinação dessas tradições, moldando um futuro rico em variedade e entretenimento nos gramados do mundo.