Dos buracos aos sintéticos: o debate sobre o futuro dos gramados no Brasil

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gramado sintético do Nilton Santos
Estádio Nilton Santos/Foto: Vitor Silva - Botafogo

Recentemente tem voltado à tona no futebol brasileiro a discussão sobre a padronização dos gramados nos estádios do País. Com o aumento de competições regionais e a intensificação do calendário nacional previstas para 2026 depois das mudanças feitas pela CBF, a qualidade dos campos de jogo mais do que nunca é uma preocupação central.

Tanto em relação à integridade física dos jogadores quanto à qualidade do espetáculo oferecido há preocupações de quem trabalha com futebol. Atualmente, há diferenças significativas no estado dos gramados entre os estados, o que gera reclamações frequentes dos atletas e clubes.

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Segundo o volante Jorginho, do Flamengo, “Deveria haver uma padronização. Existe uma grande diferença quando você atua em determinados campos e, três dias depois, se depara com outro que é completamente diferente. Ao menos, deveria haver um padrão mínimo de qualidade. Com todo o respeito ao Bahia, que é uma equipe de grande prestígio, mas o campo lá estava impraticável”.

O atleta do rubro negro carioca chega a afirmar que prefere jogar em gramados sintéticos de boa qualidade do que em gramados naturais em más condições.

O presidente da CBF, Samir Xaud, confirmou que estão em andamento estudos para unificar os padrões dos gramados de grama natural e também dos sintéticos, buscando garantir qualidade semelhante em todo o país.​

SITUAÇÃO ATUAL DOS GRAMADOS NO PAÍS

O cenário do futebol brasileiro reflete uma diversidade enorme nas condições dos gramados. Enquanto grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro possuem estádios com gramados muito bem cuidados, a situação em diversos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda é preocupante.

Muitos campos apresentam buracos, péssima drenagem e grama desgastada, dificultando o bom andamento das partidas e aumentando riscos para os jogadores.

Os baianos, para citar um exemplo, têm enfrentado críticas como a do gramado da Arena Fonte Nova, descrito em súmula oficial da CBF como “não apresentava boas condições para a prática do futebol”.

O jornalista Ian Lima apontou que alguns gramados estão “cheios de buracos, sem drenagem, com grama ruim”, evidenciando o problema que atinge principalmente clubes com menor capacidade financeira para manutenção.​

IMPACTOS NOS JOGADORES: LESÕES E RISCOS

A má conservação dos gramados não prejudica apenas a estética e o espetáculo, mas tem consequências diretas sobre a saúde dos atletas. O ortopedista Rodrigo Miziara, especialista em medicina esportiva, explica que “não importa se o campo é natural ou sintético. Em ambos, se estiver em más condições, o risco de lesões aumenta”.

Buracos e desníveis elevam as chances de entorses no tornozelo e lesões no joelho. Campos muito duros provocam impactos maiores nas articulações e músculos.

Estudos demonstram que gramados sintéticos podem apresentar mais lesões ligamentares graves, especialmente em joelhos e tornozelos, com tempo de afastamento maior e necessidade cirúrgica em muitos casos.​

A médica do Corinthians, Dra. Ana Carolina Cortes, reforça a preocupação, lembrando que, apesar de haver resistência a campos sintéticos, eles apresentam problemas similares se não forem tecnicamente adequados. Ela cita estudos da UEFA que comprovam maior incidência de lesões em gramados malconservados, principalmente sintéticos.

Esses dados reforçam a necessidade urgente de padronização para que os gramados ofereçam segurança aos jogadores, independentemente do tipo de superfície.​

CUSTOS DE INVESTIMENTO PARA OS CLUBES

Um gramado ruim atrapalha não só o desempenho técnico, mas também a experiência dos torcedores. A qualidade do toque da bola, a velocidade do jogo e a estética do campo são prejudicadas em gramados mal-cuidados. Isso afeta diretamente o espetáculo, desmotivando jogadores e públicos.

A questão financeira é outro ponto crítico. Segundo uma análise publicada pelo Lance!, a manutenção mensal de um gramado de grama natural em condições ideais gira em torno de R$ 150 mil, enquanto os gramados sintéticos exigem um gasto mensal bem menor, entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.

Além disso, o gramado sintético possui durabilidade superior, podendo ser utilizado para várias partidas seguidas sem necessidade de tempo para regeneração.

O investimento para padronização e melhoria envolve valor elevado, especialmente para grandes arenas como o Maracanã, onde o custo anual pode ultrapassar R$ 2 milhões.​

RESPONSABILIDADE DA CBF E FEDERAÇÕES ESTADUAIS

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) retomou recentemente o foco na padronização dos gramados como parte das mudanças para o calendário nacional a partir de 2026.

O objetivo é unificar critérios para gramados naturais e sintéticos, melhorando a qualidade e respeitando as diferenças regionais. Samir Xaud ressalta que a padronização visa também a preservação dos atletas e a valorização da competição.​

Entretanto, a responsabilidade não pode recair apenas sobre a CBF. Muitos especialistas e jornalistas destacam que as federações estaduais e os próprios clubes devem assumir um papel mais ativo na manutenção dos campos, buscando parcerias com prefeituras e a iniciativa privada para elevar os padrões locais. Jorginho, do Flamengo, ilustra bem este ponto ao afirmar que o tema afeta todos os clubes e que a CBF deve acolher as demandas dos dois lados, natural e sintético, para encontrar uma solução equilibrada.​