
A polêmica em torno dos campeonatos estaduais ganhou contornos mais intensos em meio ao planejamento do calendário de 2026. Com pressão de clubes como Flamengo e Palmeiras por menos partidas, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – sob o comando do presidente Samir Xaud – tenta costurar um meio-termo. Porém, há forte resistência de federações locais e equipes de menor porte, especialmente fora do eixo Sul-Sudeste.
GRANDES COBRAM
Em reunião da Comissão Nacional de Clubes realizada em julho de 2024, os dirigentes do Flamengo e do Palmeiras defenderam a redução do número de jogos dos Estaduais.
A ideia é diminuir o desgaste físico dos atletas, especialmente nos anos com calendários sobrecarregados por Copa América, Mundial de Clubes e torneios internacionais. Nos bastidores, cogita-se até a compensação financeira aos clubes menores por eventuais prejuízos.
O diretor de futebol do Flamengo, José Boto, afirmou: “Os Estaduais ficaram engessados, e precisamos de mais fôlego para os atletas que encaram série A, Libertadores e outros torneios.”
Já o Palmeiras, em nome de sua diretoria – comandada por Leila Pereira – reforçou: “Reduzir datas é essencial para preservar a saúde e qualidade do futebol”.
POSICIONAMENTO DA CBF
Eleito em maio de 2025, o presidente Samir Xaud confirmou que quer os Estaduais limitados a 11 datas a partir de 2026 – uma redução de cinco partidas em relação ao calendário de 2025, que chegou a 16 datas em muitos Estados. Em entrevista coletiva, Xaud destacou:
“É compromisso dessa gestão implementar imediatamente mudanças significativas no calendário… promover reorganização dos campeonatos estaduais para no máximo 11 datas, sem comprometer qualidade e sustentabilidade financeira”.
Na prática, o Campeonato Carioca deu um passo importante: a Ferj aprovou formato com apenas 10 datas para a próxima edição, o que o torna o primeiro Estadual a aderir à “era Xaud”.
QUEM RESISTE
Porém, nem todos veem com bons olhos as mudanças. Federações como a paulista e clubes de Séries B, C e D argumentam que a redução abrupta poderia comprometer receita, visibilidade e a sobrevivência financeira.
O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, manifestou reservas: “Não podemos prejudicar o modelo que garante renda a dezenas de clubes menores no interior”.
Protagonistas de Estados como Paraná, Goiás e Ceará também pressionam por modelos com mais datas, alegando que “estadual é essencial para manter a economia local e revelar novos jogadores”. Em tom crítico, um dirigente do interior disse ao Sindicato de Atletas:
“É muito fácil querer diminuir datas dos estaduais… sem conhecer a realidade do País”.
Clubes como o Coritiba e Volta Redonda, ambos disputando a Série B e integrantes da comissão nacional, já se posicionaram contra o corte drástico, defendendo opiniões mais equilibradas.
IMPASSE
Nas reuniões entre CBF, federações e os clubes, o embate segue acirrado. Samir Xaud acredita que há margem para acordo e já dialoga para adaptar cada Estadual às normas da CBF.
Segundo ele, não haverá problemas em impor o teto de 11 datas, desde que o resultado preserve as federações locais.
Do lado paulista, porém, alerta-se para questões contratuais – o Paulistão tem acordos televisivos firmados, o que dificultaria qualquer alteração sem revisão de valores.
CONSEQUÊNCIAS NO CALENDÁRIO NACIONAL
A pressão por redução se intensifica diante da Copa do Mundo de 2026 e dos Jogos Pan-Americanos femininos de 2027 — eventos que impactam diretamente o calendário da Série A.
Menos jogos nos Estaduais significa mais tempo para preparação, competitividade e redução de lesões. Mas também reduzem oportunidades de atuação para clubes menores – cujo modelo de negócio depende das disputas estaduais.
XAUD ENTRE A PRESSÃO E O DIÁLOGO
Até julho de 2025, apesar dos impasses, Samir Xaud sinalizou governabilidade. Ele ressaltou que a redução não significa “desvalorização cultural ou econômica” dos Estaduais, mas “profissionalização e equilíbrio para todo o futebol brasileiro”.
Na próxima temporada, a experiência do Carioca com 10 datas será avaliada como ponto de partida. Meses adiante, ficará claro se o modelo será replicado nacionalmente ou se convencerá federações e clubes de peso como São Paulo, Bahia e Minas Gerais a estudar alternativas híbridas – como jogos a menos dos grandes e manutenção de calendário dos menores.