Fora do cargo: impeachment balança a política nos clubes

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Augusto melo
Augusto Melo/Foto Rodrigo Coca - Agência Corinthians

Em assembleia geral realizada no último dia 9, os sócios do Corinthians votaram massivamente a favor do impeachment de seu presidente, Augusto Melo, por 1.413 votos favoráveis e 620 contrários, além de duas abstenções e votos nulos.

Ele havia sido eleito em novembro de 2023 e assumido o cargo oficialmente em 2 de janeiro de 2024, sendo afastado cautelarmente em 26 de maio de 2025, após votação no Conselho Deliberativo.

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O estrondoso caso abre uma discussão sobe a retirada de maus dirigentes do comando de grandes clubes, um processo nem sempre muito fácil, mas sem dúvida necessário pelo bom nome do futebol

FURTO E LAVAGEM DE DINHEIRO

No caso do Corinthians o processo contra o ex-presidente teve início após o Caso VaideBet, que levou à investigação criminal de Melo por furto qualificado, associação criminosa e lavagem de dinheiro, num esquema relacionado ao contrato de patrocínio do clube.

Após o afastamento e o indiciamento, Osmar Stábile assumiu interinamente, e o Conselho foi responsável por convocar a assembleia que culminou na destituição definitiva do dirigente.

Augusto Melo contestou o processo: em nota, afirmou que a votação foi parcial, alegando que membros de torcidas organizadas “coagiram os votantes”. Ele chegou a acusar Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo, de atuar de forma autoritária: “é um ditador… Corinthians está nessa situação porque tem um cara desse presidindo o conselho”.

IMPEACHMENTS ANTERIORES EM CLUBES BRASILEIROS

Este não foi um caso isolado no futebol nacional. Diversos presidentes de clubes já sofreram processo semelhante:

  • Santos (2018): José Carlos Peres foi destituído após votação dos sócios – 1.005 a favor, 69 contra, com dois brancos e dois nulos – motivado por irregularidades administrativas e insatisfação política interna.
  • Flamengo (2002): Edmundo dos Santos Silva foi afastado pelo Conselho Deliberativo, por 530 votos contrários e apenas 26 a favor, sob acusações de desvio de dinheiro e fraude contábil.
  • São Paulo (2015): Carlos Miguel Aidar renunciou diante da iminência de impeachment em meio a denúncias de favorecimentos em contratos e corrupção interna.

Esses processos, assim como o atual do Corinthians, refletem crises de confiança, falhas de gestão e a capacidade de conselhos deliberativos e sócios exigirem transparência.

CASO CBF

Fora dos clubes, mesmo entidades como confederações também enfrentaram remoções judiciais. Um exemplo emblemático ocorreu com a CBF, afastada judicialmente em maio de 2025, quando um juiz do Rio de Janeiro determinou a remoção do presidente Ednaldo Rodrigues e de sua diretoria por suspeitas de fraude eleitorais.

A decisão apontou que um acordo que permitia sua reeleição foi assinado por ex-presidente incapacitado mentalmente, tornando a administração ilegítima.

Embora tecnicamente não seja um impeachment esportivo, o episódio mostra como mecanismos judiciais podem destituir dirigentes e forçar novas eleições.

A DIFICULDADE PARA DESTITUIR DIRIGENTES E O PODER CONCENTRADO

No futebol, destituir presidentes nem sempre é simples. Muitos mantêm apoio político interno, controle de conselhos e influência sobre torcidas organizadas.

No caso de Augusto Melo, apesar das investigações, ele foi inicialmente protegido por aliados e chegou a obter liminares judiciais para adiar votações.

DITADURA

O temor de estruturas autoritárias internas é real: em uma entrevista, Melo afirmou que o processo foi politicamente orquestrado por quem o acusa de ato de “ditadura”.

Isso evidencia que, mesmo com estatutos e órgãos democráticos, o poder muitas vezes se concentra, dificultando a remoção de dirigentes até que provas se consolidem e pressão seja irreversível.

CITAÇÕES
  1. Augusto Melo: “é um ditador… Corinthians está nessa situação porque tem um cara desse presidindo o conselho”.
  2. Augusto Melo, ao contestar o impeachment: afirmou que “membros de organizadas… coagiram os votantes”
  3. José Carlos Peres (caso Santos): votado e destituído por maioria esmagadora de sócios – embora não haja fala direta dele citada online, a votação foi massiva.
MECANISMOS PARA O IMPEACHMENT EM CLUBES DE FUTEBOL

Embora não seja fácil — em muitos clubes a base de poder é resistente — o exemplo recente do Corinthians mostra que, com mobilização de conselheiros, investigação e apoio dos sócios, o impeachment pode ser aplicado. A transparência, o respaldo jurídico e a mobilização interna são cruciais para quebrar controladores e impor a responsabilização.