
No futebol, a paixão ultrapassa os 90 minutos. Para muitos torcedores, o resultado de um jogo não depende apenas da escalação ou da tática do técnico, mas também de elementos imateriais, quase místicos – as famosas superstições.
E se no passado elas estavam restritas a meias viradas, camisas da sorte ou orações na frente da televisão, hoje a cultura pop também entra em campo. Em São Paulo, um fenômeno curioso tomou conta da torcida do Corinthians: Taylor Swift virou um talismã informal para o clube.
A relação entre a cantora americana e os alvinegros não é casual. Alguns torcedores notaram que os lançamentos de álbuns de Taylor coincidem com vitórias ou momentos importantes do time.
O álbum “1989 (Taylor’s Version)”, por exemplo, foi lançado um dia antes da vitória do Corinthians sobre o Grêmio, em um jogo crucial do Brasileirão. Rapidamente, a coincidência virou teoria.
“Pode parecer brincadeira, mas depois que percebi essa coincidência, comecei a ficar de olho. Toda vez que ela anuncia um álbum novo, parece que o Corinthians melhora em campo”, diz Carla Mendes, 28 anos, torcedora fanática do clube. “Tem gente que acende vela pra santo, eu coloco Taylor no repeat antes dos jogos.”
A tendência foi amplificada nas redes sociais. No X (antigo Twitter), o termo “Taylor Swift Corinthians” já figurou entre os assuntos mais comentados em dias de lançamento da cantora. Torcedores passaram a usar hashtags como #SwiftLançaQueOGolSai e memes misturando fotos de Taylor com o escudo do clube.
SUPERTIÇÕES QUE VALEM MAIS QUE ESTATÍSTICAS
A relação entre futebol e superstição é antiga e, em muitos casos, quase institucional. O Botafogo, por exemplo, é frequentemente citado como o clube mais supersticioso do País. A fama vem não só da torcida, mas também de dirigentes e jogadores.
Reza a lenda que o ex-presidente Carlos Augusto Montenegro se recusava a assistir a jogos decisivos no estádio para não “dar azar”. A tradição pegou: em alguns momentos, torcedores chegaram a pedir que ele não aparecesse nos jogos, tudo em nome da mística.
“O Botafogo é um time que carrega uma aura muito intensa, com altos e baixos históricos. A superstição se tornou uma forma de o torcedor lidar com essa montanha-russa emocional”, explica o jornalista esportivo Rodrigo Capelo.
“Tem gente que acredita que a camisa listrada traz mais sorte que a branca, outros não veem jogo em determinados bares… vira quase um ritual coletivo.”
Em 2023, durante a campanha surpreendente do clube no Brasileirão, diversas superstições voltaram à tona. Um grupo de torcedores viralizou ao afirmar que só assistia aos jogos de costas para a TV – e que, assim, o Botafogo não perdia. No fim, o título escapou, mas as práticas continuam firmes.
DE XUXA A MICHAEL JACKSON: CULTURA POP E FUTEBOL
O caso de Taylor Swift não é o primeiro em que a cultura pop e o futebol se misturam por meio de superstições. Nos anos 1990, era comum ouvir torcedores dizendo que ouvir Xuxa antes dos jogos trazia boa sorte. Em Pernambuco, há registros de torcedores do Sport que acreditavam que a presença da “Rainha dos Baixinhos” na televisão, antes da partida, era um sinal de vitória certa.
Em outro episódio curioso, durante a Copa do Mundo de 2010, fãs do atacante Cristiano Ronaldo viralizaram com a ideia de que ouvir Michael Jackson antes dos jogos dava energia ao craque. Embora sem comprovação alguma, o hábito se espalhou pelas redes.
O professor de sociologia do esporte Marcos Paulo Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que esse tipo de comportamento tem uma função emocional importante: “Superstições são mecanismos de controle em contextos de incerteza. O futebol é um ambiente altamente imprevisível, então buscar padrões – mesmo que irreais – ajuda o torcedor a sentir que está participando do resultado.”
QUANDO O POP VIRA O CAMISA 12
As superstições associadas à cultura pop também mostram como o futebol vai além dos gramados. Para muitos, ele se funde com identidade, fé, rotina e até preferências musicais. E isso tem sido explorado por clubes e marcas.
Recentemente, o Corinthians lançou uma playlist oficial no Spotify chamada “Esquenta do Timão”, que inclui músicas de Taylor Swift, Ludmilla, Raça Negra e outros artistas que, de alguma forma, marcam momentos da torcida.
Já o Botafogo criou, em tom de brincadeira, uma seção em seu site chamada “Manual do Torcedor Pé-Quente”, reunindo os rituais mais curiosos enviados por fãs.
Enquanto isso, no mundo digital, TikToks com simpatias para dar sorte ao time seguem acumulando milhares de visualizações. Se funcionam ou não, ninguém sabe. Mas para o torcedor, quando o juiz apita o começo do jogo, tudo já foi feito – seja vestir a camisa do acesso, virar a tampa da garrafa de cabeça para baixo ou colocar Taylor Swift no volume máximo.