Futebol BR 2025: a economia entra em campo

16
economia no futebol brasileiro
Estudo da CBF: Foto Thais Magalhães/CBF

O futebol brasileiro, uma das maiores paixões nacionais, também se configura cada vez mais como uma peça central na economia global do esporte.

Em 2025, o mercado do futebol no Brasil vive transformações profundas que abrangem aspectos econômicos, políticos e culturais, consolidando o esporte como espetáculo e indústria rentável, mas também expondo desafios e dilemas para a sustentabilidade financeira dos clubes e para o posicionamento do país no cenário mundial.

Bet365 button
RELATÓRIO

Segundo o relatório “O Impacto do Futebol Brasileiro”, elaborado pela CBF em parceria com a consultoria EY em 2019 e ainda referência para análises atuais, a cadeia produtiva do futebol representa cerca de 0,72% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o que corresponde a um montante de aproximadamente R$ 52,9 bilhões.

Walter Feldman, que foi secretário geral da CBF, comenta: “Apresentamos um estudo muito profundo, delicado e com resultados significativos. Nosso objetivo é entregar esse relatório ao Governo Federal e mostrar a relevância do futebol como negócio e não só como lazer. É um setor produtivo que afeta diretamente nossa economia”.

DUALIDADE

O futebol brasileiro enfrenta uma realidade dual: por um lado, o aumento das receitas com direitos de transmissão, patrocínios e transferências de jogadores traz novos recursos e investimentos para os clubes.

Segundo dados da Sports Value citados por Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo, em 2023 as receitas dos 20 maiores clubes brasileiros somaram cerca de R$ 1,2 bilhão, com expectativa de crescimento para 2024, impulsionadas sobretudo pelo ingresso de investidores privados via SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol). Somoggi ressalta que “quanto mais investimentos nos clubes, mais é agregado valor para o mercado e qualidade no produto final, na busca de competições mais atraentes mercadologicamente”.

ENDIVIDAMENTO

Contudo, por outro lado, o aumento das receitas não tem se traduzido em equilíbrio financeiro sustentável. Um relatório recente da Convocados em parceria com OutField e Galapagos Capital aponta que, apesar do crescimento de 25% nas receitas anuais, o endividamento dos clubes cresceu 23% em 2024, alcançando R$ 14,6 bilhões.

Joel La Banca, diretor da Galapagos Capital, destaca: “Esses patamares não são sustentáveis a longo prazo, especialmente se os clubes continuarem sem gerar superávit para pagá-los. O futebol está no caminho da doença”.

O documento evidenciou que os clubes multiplicaram os gastos com contratações, chegando a R$ 3,4 bilhões em 2024, enquanto enfrentam déficits recorrentes e despesas operacionais altas, particularmente com salários e encargos.

TRANSFORMAÇÃO ESTRUTURAL

Além do contexto econômico, a transformação estrutural também é pauta central na política do futebol nacional. A criação das SAFs, que tem ganhado adesão crescente no Brasil, representa uma tentativa de modernizar a gestão e profissionalizar os clubes a partir de modelos empresariais.

Conforme análise publicada em 2024, o processo de transição da associação esportiva tradicional para a SAF é visto como último recurso para escapar das dívidas históricas.

O modelo permite a captação de investimentos privados e maior controle financeiro, mas implica em uma mudança na natureza das decisões, transferindo a gestão para investidores e reduzindo a influência das associações e torcedores nas decisões fundamentais.

EXPORTAÇÃO DE TALENTOS

No plano cultural e esportivo, o Brasil ainda desempenha um papel de destaque como formador e exportador de talentos para os mercados internacionais, especialmente o europeu.

Porém, no que diz respeito ao chamado “mercado-mundo da bola”, o país ocupa uma posição periférica, condicionada à lógica capitalista global do espetáculo.

Conforme tese de doutorado de Wagner Barbosa Matias (2018), o futebol brasileiro é entendido como fornecedor de força esportiva para os grandes centros, enquanto sua indústria local enfrenta desafios de concentração de renda, dívidas e déficit generalizado, refletindo uma relação desigual entre centro e periferia nesse mercado mundial.

Apesar dos altos investimentos, o cenário ainda é de contrastes frequentes. Os clubes brasileiros buscam aumentar receitas com sócio-torcedores, bilheteria, direitos de transmissão e marcas, mas carecem de uma liga nacional forte e estruturada similar às europeias, que poderia alavancar a exposição global e gerar mais receita.

O ambiente político do futebol, com a necessidade de reformas na CBF e nas gestões locais, torna o futuro incerto, sobretudo em um contexto competitivo e globalizado que exige inovação e profissionalismo constante.

DILEMAS

Dentre os grandes dilemas que o futebol brasileiro enfrenta estão a sustentabilidade das finanças dos clubes, a profissionalização da gestão e a valorização da relação entre torcedor e clube.

O desafio é aproveitar o momento promissor de crescimento econômico do setor para implementar mudanças estruturais que garantam longevidade, respeitando a identidade cultural do esporte no país, mas inserindo-o com força no cenário global.

CONCLUSÃO

Em resumo, a economia política do futebol brasileiro em 2025 é marcada por crescimento financeiro, investimentos inovadores, expansão das SAFs e pressões por modernização, ao mesmo tempo em que precisa lidar com o agravamento das dívidas, déficit operacional e desafios culturais e políticos. O futebol no Brasil permanece uma poderosa indústria do espetáculo, mas que ainda busca equilíbrio econômico e reconhecimento estratégico no mercado mundial.