
O futebol é mais que um esporte no Brasil e na Europa; é um espaço de convivência que reflete as tensões sociais e culturais, inclusive as relacionadas às questões raciais.
Em 2025, o desafio da diversidade e do combate ao racismo no futebol permanece urgente e complexo, apesar dos avanços significativos alcançados na inclusão de jogadores de diferentes etnias ao longo das últimas décadas.
SÍMBOLO
Vinícius Júnior, atacante do Real Madrid e um dos maiores jogadores da atualidade, é um símbolo da luta contra o racismo no futebol. Desde sua chegada à Espanha em 2018, ele tem sido alvo recorrente de ataques racistas.
Em um episódio emblemático, ocorrido em maio de 2023 no estádio Mestalla, durante um jogo contra o Valencia, Vinícius foi vítima de insultos racistas por parte de torcedores adversários. Ao reagir, o jogador destacou a gravidade do problema, afirmando que “o racismo é normal na La Liga”, denunciando o que chamou de uma leniência histórica das autoridades espanholas em atuar de forma eficaz contra esses atos.
O impacto da postura de Vinícius vai além do campo. Ele conseguiu transformar seu sofrimento em uma plataforma de resistência, ajudando a elevar a discussão sobre racismo para a esfera global no futebol.
Nas palavras do presidente do Observatório Racial do Futebol, Marcelo Oliveira, Vinícius é um atleta ativo que usa sua visibilidade para combater o preconceito dentro e fora das quatro linhas.
Sua luta também incentivou respostas institucionais, como a aprovação da chamada “Lei Vinícius Júnior” no Brasil, que visa punir atos racistas em eventos esportivos e reforçar a promoção da diversidade e inclusão.
CRIME DE ÓDIO
No contexto europeu, especialmente na Espanha, o racismo é tipificado como crime de ódio, podendo resultar em penas severas, que incluem até prisão para os infratores, além de multas e punições administrativas aos clubes, como a proibição temporária de entrada em estádios para torcedores infratores.
No entanto, o presidente da La Liga, Javier Tebas, admitiu que as ações no futebol no país ibérico têm limitações por não dispor da força legal para aplicar punições diretas, sendo as denúncias encaminhadas às autoridades competentes.
Segundo Tebas, “embora a liga trabalhe para identificar os agressores e encaminhar as reclamações, é necessário melhorar a legislação e os mecanismos de resposta para eliminar o racismo nos estádios de forma mais eficaz”.
DANOS PSICOLÓGICOS
Além da Espanha, outras partes do mundo do futebol europeu também enfrentam desafios similares. Jogadores como Raheem Sterling, que atuam em ligas inglesas, têm sido vítimas frequentes de preconceito racial, expondo um problema estrutural no esporte que ultrapassa fronteiras.
Psicólogos especialistas em comportamento esportivo ressaltam que os ataques racistas vão muito além do campo: causam danos psicológicos profundos, que afetam o desempenho e a saúde mental dos atletas.
Segundo a psicóloga Ana Luiza Moreira, “trabalhar a educação e a conscientização em escolas de futebol e entre torcedores é crucial para mudar essa realidade a longo prazo, mas medidas legais e punições rigorosas também são indispensáveis para inibir comportamentos racistas”.
BRASIL
No Brasil, embora o futebol tenha tradição na diversidade étnica, episódios de racismo ainda ganham manchetes e preocupam especialistas. A compreensão do racismo como um problema estrutural e sistêmico tem impulsionado ações de clubes e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que tem adotado campanhas educativas e de conscientização, além de apoiar jogadores na denúncia de ofensas racistas.
A seleção brasileira, alinhada a essas iniciativas, já realizou partidas simbólicas vestindo camisas pretas como forma de protesto e solidariedade a atletas vítimas de racismo.
INICIATIVAS
No campo das iniciativas contra o racismo, programas suportados por federações e clubes, como treinamentos obrigatórios para jogadores, técnicos e torcedores, campanhas públicas, e o uso das mídias sociais para apoiar a diversidade são destaque.
Entretanto, a comunidade esportiva ainda clama por ações mais concretas e efetivas, incluindo a punição exemplar de torcedores e dirigentes que praticam ou incentivam o racismo.
TRISTEZA
Ao refletir sobre o desafio da diversidade no futebol em 2025, fica evidente que o esporte pode ser um poderoso agente de transformação social. Como disse Vinícius Júnior em entrevista recente:
“É cada vez mais triste. Cada vez eu tenho menos vontade de jogar. Mas fui escolhido para defender uma causa importante para que meu irmão e outras gerações não passem pelo que eu passo”.
Sua declaração reflete o peso da luta que muitos ainda enfrentam e a esperança de que o futebol, como paixão mundial, também possa ser palco de respeito e igualdade.