Muito além do futebol: paixão e política no maior clássico do mundo

10
Real Madrid x Barcelona
Imagem: Divulgação

Considerado por muitos o maior clássico do mundo, o duelo Real Madrid x Barcelona volta a movimentar a paixão dos torcedores e a atenção do planeta. Neste domingo, às 12h15 (de Brasília), o Estádio Santiago Bernabéu, em Madri, será palco da 262ª edição do confronto que divide não apenas torcidas, mas também identidades culturais e históricas.

O confronto vale pela décima rodada de La Liga 2025/26 e o Real está na liderança, com 24 pontos, dois a mais que o rival catalão. De um lado, os “merengues” apostam na velocidade e na ousadia de Vinícius Júnior; do outro, o Barcelona lamenta a ausência de Raphinha, referência ofensiva, mas confia na juventude de Lamine Yamal e Gavi para desafiar o adversário.

Bet365 button

Mais do que uma simples partida, o clássico representa um capítulo vivo da rivalidade entre Castela e Catalunha, entre a capital e a região espanhola que ainda sonha com independência.

HISTÓRIA E SIGNIFICADO

A origem do “El Clásico” remonta ao início do século pássado, quando o futebol começou a se consolidar como uma expressão de identidade nacional e regional na Espanha. Desde então, Real Madrid e Barcelona não representam apenas clubes, mas também símbolos políticos e culturais.

Como explicou o historiador catalão Jordi Finestres, autor do livro “Barça: História Ilustrada, “cada clássico é uma batalha simbólica entre dois modos de entender a Espanha. O Real Madrid representa o poder central, e o Barcelona, a resistência cultural e política da Catalunha”.

Ao longo das décadas, essa rivalidade foi alimentada por episódios marcantes. Durante a ditadura de Francisco Franco (1939–1975), o Real Madrid foi visto como o “time do regime”, enquanto o Barcelona se tornou um símbolo da oposição e da liberdade catalã. Mesmo com o passar dos anos e o fortalecimento da democracia, essa dimensão simbólica nunca desapareceu completamente.

BRASILEIROS EM EL CLÁSICO

“El Clásico” também tem sido um palco privilegiado para os craques brasileiros. Muitos de nossos mais famosos jogadores marcaram época nos dois lados da disputa.

Romário, em 1994, eternizou sua atuação ao marcar três gols na vitória do Barcelona por 5 x 0 no Camp Nou. Anos depois, Ronaldinho Gaúcho repetiria o feito, encantando o Bernabéu em 2005, quando foi aplaudido de pé pelos torcedores rivais após uma exibição de gala.

“Aquele jogo foi mágico. Senti algo único quando vi o público do Real aplaudindo. Era mais do que futebol, era respeito ao talento”, declarou Ronaldinho, em entrevista à revista FourFourTwo.

RONALDO E NEYMAR

No Real Madrid, Ronaldo Fenômeno deixou sua marca com gols e atuações memoráveis, assim como Roberto Carlos, dono de um dos chutes mais potentes da história do futebol.

Já Neymar, com a camisa blaugrana, protagonizou duelos intensos ao lado de Messi e Suárez, formando o lendário trio MSN, que marcou época entre os catalês

Como observou o ex-jogador e comentarista Cafu, “El Clásico é o tipo de jogo que separa os bons dos extraordinários. Quem brilha ali entra para a história do futebol mundial”.

NÚMEROS EQUILIBRADOS E EXPECTATIVA MÁXIMA

O equilíbrio entre os gigantes é quase absoluto. De acordo com os dados mais confiáveis, em 261 partidas oficiais, o Real Madrid soma 105 vitórias, contra 104 do Barcelona e 52 empates. A vantagem mínima dos madrilenhos reforça a imprevisibilidade que sempre cercou o confronto.

Para o jornalista esportivo espanhol Guillem Balagué, autor de uma das biografias mais completas de Lionel Messi, “o clássico não é só sobre quem ganha o jogo, mas sobre quem impõe sua filosofia: o controle e a arte do Barça contra o poder e a eficiência do Real”.

IDENTIDADE, POLÍTICA E PAIXÃO

Muito além dos gramados, o El Clásico é reflexo de uma tensão histórica. A Catalunha há décadas reivindica maior autonomia e, para muitos catalães, o Barcelona é uma extensão dessa luta. “O Barça é mais que um clube”, diz o famoso lema do time (“Més que un club), adotado oficialmente em 1968.

Segundo a socióloga espanhola María Pilar Llopis, da Universidade Autônoma de Barcelona, “assistir ao clássico na Catalunha é um ato político. É como afirmar: nós existimos, temos voz e identidade própria”.

Essa dimensão explica por que o duelo mobiliza torcedores no mundo inteiro. Dentro das quatro linhas, trata-se de futebol do mais alto nível; fora delas, é um espelho da Espanha contemporânea, com suas contradições, paixões e disputas culturais.

UM CLÁSSICO QUE NUNCA ENVELHECE

Ano após ano, Real Madrid e Barcelona se renovam, mas a essência do confronto permanece: talento, emoção e rivalidade. Vinícius Júnior, Rodrygo, Lamine Yamal e Gavi são os novos rostos de uma história que começou há mais de um século e que continua a fascinar o mundo.

CONCLUSÃO

Independentemente do resultado, o El Clásico é uma celebração do futebol em sua forma mais intensa — onde tradição, política e espetáculo se fundem em um só evento.

Como sintetizou o lendário treinador Johan Cruyff, que brilhou tanto em campo quanto no banco do Barça:
O futebol é um jogo simples, mas jogar de maneira simples é o mais difícil que existe — e é isso que o clássico nos mostra, todas as vezes.”