
A cada temporada, a montagem de um elenco capaz de brigar por títulos e evitar o rebaixamento se torna um dos principais desafios para clubes brasileiros.
Mesmo gigantes como Corinthians e Internacional, que contam com orçamentos robustos, enfrentam dificuldades para alcançar o desempenho esperado.
Enquanto isso, equipes como o Botafogo, que em 2024 surpreendeu ao conquistar a Libertadores e o Brasileirão, já enfrentam problemas para manter o nível após uma reformulação agressiva no elenco.
DINHEIRO NÃO É A ÚNICA RESPOSTA
A questão financeira é, sem dúvida, um fator determinante, mas não explica tudo. Muitos clubes investem pesado em contratações, mas veem seus elencos desmoronar em campo.
O problema vai além dos cofres: envolve planejamento, gestão esportiva e até cultura organizacional. Como destacou o comentarista Mauro Cezar Pereira: “O futebol brasileiro vive uma era de contratações sem critério. O dinheiro entra, mas falta visão de longo prazo e coerência tática”.
EXEMPLOS RECENTES
O Botafogo é um exemplo emblemático. Após conquistar dois títulos históricos em 2024 com o dinheiro da SAF comandada por John Textor, o clube se desfez de grande parte do elenco vitorioso, apostando em novas contratações.
No entanto, o rendimento caiu drasticamente em 2025, e o Glorioso ocupa apenas a sexta posição na Série A, sem chances de título e fora das principais competições internacionais.
“Foi um ano de altos e baixos. O clube vendeu seus principais ativos e tentou repor com apostas, mas o processo foi mal feito. Faltou continuidade e identidade”, afirmou o ex-diretor de futebol do Botafogo, Antônio Carlos Zago, em entrevista recente.
Clubes tradicionais como Corinthians e Internacional, mesmo com orçamentos maiores, também não conseguem se reerguer. O ciclo de troca de técnicos e diretores, aliado à pressão por resultados imediatos, prejudica qualquer projeto de longo prazo.
PLANEJAMENTO: O GRANDE DESAFIO
A falta de planejamento é apontada como um dos principais obstáculos para o sucesso na montagem de elencos. A diretoria do Juventude, por exemplo, admite que encontrar bons reforços é difícil, mas também reconhece que “o problema não é apenas achar bons jogadores, mas montar um time com identidade e que se adapte ao projeto do clube”.
O comentarista e diretor de comunicação da CBF, Fábio Seixas, reforça essa visão: “Muitos clubes agem de forma reativa, tentando resolver problemas no curto prazo. Isso gera instabilidade e dificulta a construção de um time coeso”.
A ROTATIVIDADE E A CULTURA DO FUTEBOL BRASILEIRO
A alta rotatividade de jogadores e comissões técnicas também contribui para o cenário. O Santos, por exemplo, é citado como um clube que opera em constante reformulação, com atletas sendo vendidos e apostas sendo feitas em novos nomes. O resultado é um ambiente de instabilidade, que exige adaptação permanente da comissão técnica e dificulta a construção de um projeto duradouro.
“O futebol brasileiro vive uma cultura de ‘fazer agora’, sem se preocupar com o futuro. Isso gera um ciclo de contratações e demissões que prejudica qualquer tentativa de construção de elenco”, analisou o técnico Cléber Xavier, do Santos.
CONCLUSÃO
Para reverter esse cenário, é necessário que clubes adotem uma postura mais estratégica. Planejamento de longo prazo, manutenção de projetos esportivos e estabilidade na gestão são passos fundamentais.
Além disso, é essencial que clubes desenvolvam uma cultura de análise de dados, scouting estruturado e formação de elencos com identidade tática.
Afinal, montar um elenco não é apenas gastar dinheiro. É construir um time com propósito, coerência e visão de futuro.
Como disse o ex-jogador e comentarista Neto: “Dinheiro é importante, mas sem planejamento, um clube vai continuar patinando”.






























