
O debate sobre o uso de gramados sintéticos no futebol brasileiro está cada vez mais acalorado, envolvendo clubes, jogadores, treinadores. Além de dirigentes e da própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Em um cenário onde times como Botafogo, Palmeiras e Athletico Paranaense têm seus estádios com gramados artificiais, o tema se tornou um ponto de tensão no Brasileirão e outras competições nacionais, suscitando tanto críticas severas quanto defesas entusiastas.
CRÍTICOS
O Botafogo, que adotou o gramado sintético no Estádio Nilton Santos em 2023, e o Palmeiras, com gramado artificial no Allianz Parque desde 2020, têm enfrentado oposição de rivais e atletas.
O Athletico Paranaense, que este ano disputa a Série, também conta com gramado sintético em sua Arena da Baixada (Ligga Arena) desde 2016. Embora a equipe paranaense esteja fora da elite nacional, a polêmica envolvendo seu estádio segue relevante, refletindo no debate geral sobre a tecnologia.
Os críticos apontam principalmente para questões de saúde dos jogadores e para a qualidade do espetáculo. Grandes nomes da Série A, como Neymar, Gabigol, Lucas Moura e Thiago Silva, iniciaram a campanha nas redes sociais #NãoAoGramadoSintético, alertando para o aumento do risco de lesões e para a alteração na dinâmica técnica dos jogos.
PREJUÍZO PARA O FUTEBOL?
O técnico Renato Gaúcho, por sua vez, chegou a responsabilizar o gramado sintético pela derrota do Fluminense diante do Botafogo, reforçando o argumento de que a superfície artificial pode prejudicar o rendimento das equipes visitantes.
O presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) e vários clubes da Série A também expressam posicionamentos contrários. O São Paulo, por exemplo, é um dos clubes que levantam a bandeira contra os “tapetes”, alegando um ambiente desfavorável para o futebol de mais alto nível.
DEFENSORES
Em contraponto, defensores do gramado sintético apresentam argumentos que vão desde a viabilidade econômica e a praticidade na manutenção até o avanço tecnológico que assegura padrões de qualidade aprovados pela Fifa. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, destaca:
“O gramado do Allianz Parque é certificado pela Fifa anualmente e atende a todos os parâmetros técnicos. As críticas que apontam uma maior incidência de lesões não têm suporte científico e atrapalham o debate sério sobre o tema.”
Especialistas em infraestrutura esportiva como Sérgio Schildt, presidente da empresa Recoma, responsável pela instalação de inúmeros gramados sintéticos no Brasil, também chamam atenção para o fator financeiro. Manter gramados naturais em alto padrão requer investimentos elevados e limita o uso dos estádios para eventos múltiplos, enquanto a grama artificial viabiliza uma exploração mais flexível.
CAUTELA DA CBF
A CBF, por sua vez, adotou uma postura cautelosa diante da controvérsia. O ex-presidente Ednaldo Rodrigues chegou a anunciar a realização de um estudo detalhado conduzido pela Comissão Nacional Médica da entidade para analisar os impactos do gramado sintético no futebol profissional. Ele atendeu a reclamações tanto de jogadores quanto de clubes.
A decisão reflete a necessidade de embasamento científico para qualquer medida futura, inclusive a possível proibição do gramado sintético nas competições oficiais. O treinador Cuca, do Atlético Mineiro, também opinou sobre o tema:
“É importante ouvir todos os lados. Há avanços na tecnologia dos gramados sintéticos, mas precisamos garantir que o jogador esteja bem protegido para expressar seu melhor futebol. A decisão precisa ser orientada por dados e experiência real.”
CONCLUSÃO
Em suma, o debate sobre gramados sintéticos no Brasil envolve uma complexa balança entre tecnologia, medicina esportiva, tradição e sustentabilidade econômica dos clubes.
Enquanto alguns defendem a inovação como caminho para modernização e ampliação dos usos dos estádios, outros veem nela um retrocesso em termos de qualidade e segurança do jogo.
Com o futuro da questão ainda em aberto, e com a CBF prometendo novas discussões em seus conselhos técnicos, a adoção ou rejeição definitiva dos gramados sintéticos no futebol brasileiro permanece uma pauta de enorme relevância para os próximos anos.