Por que alguns times produzem muito, mas marcam pouco?

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gol perdido
Gol perdido pelo Flamengo/Imagem: Youtube-CRF

No futebol moderno, cada vez mais guiado por métricas avançadas, costuma chamar a atenção quando uma equipe produz muito, mas converte pouco. 

Às vezes, o time domina por 90 minutos, coleciona números impressionantes em expected goals (xG), porém sai de campo sem marcar ou com placar frustrante. 

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O fenômeno, frequente em competições nacionais e internacionais, levanta a mesma pergunta: afinal, por que alguns times criam tanto, mas finalizam tão mal?

Para muitos analistas, a resposta não está em um único ponto, mas em uma combinação de fatores: qualidade técnica, decisões no último terço, estrutura tática, preparação psicológica e até falta de rotinas específicas de finalização.

FALTA DE TREINOS DE FINALIZAÇÃO?

A ausência de trabalhos mais direcionados no último terço pode ser um dos principais motivos. Em meio a calendários apertados, alguns treinadores acabam reduzindo sessões técnicas específicas para priorizar recuperação física e organização defensiva.

Um especialista em análise de desempenho, explica:
“Muitos clubes até criam jogadas bem estruturadas, mas não treinam o gesto final o suficiente. Finalizar com precisão exige repetição e memória muscular; se isso não acontece, o time tende a render abaixo do que os números de criação sugerem.”

NO BRASIL E NO EXTERIOR

Times como o Chelsea de 2023–24 e o Arsenal de 2021–22, por exemplo, tiveram longas sequências em que produziam xG alto, mas desperdiçavam chances claras. 

Na época, analistas ingleses apontavam que os centros de treinamento focavam em construção e pressão pós-perda, mas dedicavam menos tempo à definição dentro da área.

No Brasil, momentos recentes de clubes como Internacional, Grêmio e até o São Paulo também chamaram a atenção por esse descompasso entre desempenho e eficiência ofensiva. Não é incomum ver equipes que criam 15 ou 20 finalizações por jogo, mas acertam o alvo apenas duas ou três vezes.

PROBLEMAS ESTRUTURAIS NO ESQUEMA DE JOGO

Outro ponto essencial é o modelo tático, que pode inflar artificialmente estatísticas de finalização sem gerar real perigo ao adversário. Alguns times acumulam arremates de baixa qualidade, de fora da área, ou cruzamentos aleatórios que resultam em chances pouco promissoras.

O comentarista esportivo Eduardo Sampaio resume esse fenômeno:
“Criar muito não significa criar bem. Tem equipe que coleciona finalizações que só aumentam a estatística, mas não assustam o goleiro. A construção pode ser boa até o penúltimo passe, mas falta clareza no momento decisivo.”

Exemplos reais ilustram isso. Em 2022, o Atlético de Madrid viveu um período de volume alto e baixo aproveitamento, muito devido ao excesso de cruzamentos previsíveis.

No Brasil, o Botafogo de 2023, na reta final do Brasileirão, gerava boas estatísticas, mas executava mal o último passe. Resultado: queda drástica de aproveitamento e perda da liderança.

QUESTÕES PSICOLÓGICAS E PRESSÃO NAS DECISÕES

Não basta criar; é preciso decidir com calma. E isso, em momentos de pressão, pode desaparecer rapidamente. Sequências de maus resultados ou semanas de jogos decisivos deixam os atacantes mais tensos, e a confiança, tão crucial, despenca.

A psicóloga esportiva Carla Menezes, que atua com atletas profissionais, destaca o peso emocional:
“Quando um time entra em campo com cobrança externa e interna, o jogador passa a antecipar mentalmente o erro. E quando o gesto técnico é tenso, a chance de execução ruim aumenta. Isso explica muitas fases de baixa conversão mesmo em times muito qualificados.”

Casos famosos incluem o Liverpool no início da temporada 2020–21, quando enfrentou jejum ofensivo apesar de gerar diversas chances; e o Flamengo em fases mais instáveis de 2022, quando Gabriel Barbosa e Pedro terminaram jogos com grande volume, mas poucas finalizações eficientes.

AJUSTES PARA RECUPERAR A EFICIÊNCIA

Várias soluções podem ajudar equipes que produzem muito, mas convertem pouco:

  • Treinos específicos de finalização, com simulações reais de pressão.

  • Análise de qualidade das chances criadas, reduzindo chutes de baixo xG.

  • Melhorias no posicionamento de atacantes, com movimentações que criem ângulos mais favoráveis.

  • Trabalho psicológico, essencial para quebrar ciclos negativos.

  • Ajustes táticos, como aproximação de meias e laterais, evitando isolamentos na área.