
Nos últimos meses, a presença de investidores do Oriente Médio, especialmente da Arábia Saudita, tem ampliado significativamente sua influência no futebol da América Latina, refletindo diretamente no mercado brasileiro.
O investimento bilionário saudita tem como objetivo posicionar o Reino da Arábia Saudita como um ator global de peso no esporte, com estratégias que ultrapassam fronteiras geográficas e impactam profundamente a dinâmica dos clubes e jogadores na América Latina.
O Fundo de Investimento Público (PIF), braço do governo saudita, iniciou desde 2023 uma ofensiva para transformar a liga local em potência mundial. Segundo o CEO da Liga Saudita, Omar Mugharbel, em entrevista recente, “o desejo é contar com grandes talentos mundiais, como o brasileiro Vinicius Jr., eleito o melhor jogador do mundo em 2024, não só como atleta, mas também como embaixador da Copa do Mundo de 2034”. Esse modelo ambicioso inclui investimentos de €4 bilhões (R$ 24,9 bilhões) em múltiplos esportes, com foco principal no futebol.
IMPACTO DIRETO SOBRE OS CLUBES BRASILEIROS
O reflexo desses vultosos aportes é visível no Brasil, maior celeiro de talentos do futebol mundial. Clubes brasileiros têm sentido a competição por jogadores se intensificar devido ao poder financeiro dos clubes sauditas, que gastaram cerca de R$ 3 bilhões em contratações nas últimas temporadas.
O Al-Hilal, principal clube do país, surpreendeu ao eliminar o Manchester City nas oitavas de final do Mundial de Clubes 2025, com um time repleto de estrelas, incluindo quatro brasileiros, entre eles o lateral-esquerdo Renan Lodi, que possui 19 jogos pela seleção brasileira.
O presidente do Al-Hilal, Fahad Bin Nafel, destacou a importância desse desempenho: “Garantimos uma premiação de cerca de R$ 3 milhões por jogador apenas pela vitória contra o Manchester City”.
Além do Al-Hilal, outros grandes clubes sauditas como Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli, que contavam com contratos milionários e jogadores de renome como Cristiano Ronaldo e João Félix, estão passando por mudanças.
Há uma reestruturação que objetiva diminuir a dependência de recursos públicos, com previsão da venda dos clubes para investidores privados, prática inédita na Liga Saudita.
Conforme explicou o jornalista Ahmed Ajlan, “o governo pretende atrair investidores capazes de transformar os clubes em potências globais, garantindo sustentabilidade financeira e competitividade”.
MUDANÇAS NO MERCADO E NOVOS DESAFIOS
A reconfiguração da gestão dos clubes sauditas traz impactos no mercado esportivo mundial, inclusive na América Latina. A abertura destes clubes para investimentos privados pode significar maior profissionalização, mas também maior concorrência no mercado por atletas.
A Liga Saudita vinha investindo fortemente para adquirir talentos, movimentando cerca de US$ 1,3 bilhão só em contratações nos últimos anos, o que gerou uma inflação nos valores dos jogadores latino-americanos que buscam novas oportunidades em ligas mais visadas financeiramente.
INFRAESTRUTURA
No entanto, o mercado saudita ainda aposta no desenvolvimento estrutural das equipes. A SPL (Saudi Pro League) iniciou programas para financiar clubes com melhor infraestrutura, visando não apenas o fortalecimento esportivo, mas também a valorização comercial dos times para uma eventual venda.
“Com uma liga mais atrativa, o Reino pode obter lucro com a venda das equipes, criando um ciclo sustentável de crescimento esportivo e econômico”, disse um analista do setor esportivo.
REFLEXOS FUTUROS PARA O FUTEBOL LATINO-AMERICANO
A influência dos investidores do Oriente Médio deve continuar crescendo, trazendo desafios e oportunidades para os clubes latino-americanos. Para o Brasil, em particular, o impacto pode ficar ainda mais evidente nos próximos anos, pois os clubes locais precisarão adequar suas estratégias para competir tanto no campo quanto no mercado financeiro por seus talentos.
Para o ex-jogador e atual comentarista esportivo Felipe Souza, “a entrada desses recursos pode ser uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que movimenta o mercado, pode também desestabilizar algumas estruturas tradicionais que sustentam o futebol na América Latina”.
O panorama futuro aponta para uma maior profissionalização, mas também para a necessidade de adaptação dos clubes brasileiros e latino-americanos às novas dinâmicas globais.
EUROPA
Outras origens notáveis dos investimentos em atletas da América Latina, são os clubes da Europa, com destaque para a milionária Premier League inglesa. Liverpool, Chelsea, Manchester City e Arsenal, além do “emergente” Nottingham Forest, têm abocanhado muitos talentos em especial do Brasil e da Argentina.
Gigantes espanhóis como Real Madrid e Barcelona, obviamente, também estão nesta “divisão do bolo” latino americano. Entretanto, outro que não tem ficado de fora é o Athletico de Madrid, onde está atuando o craque argentino Thiago Almada, multicampeão pelo Botafogo.