Arbitragem em xeque no Brasil: críticas e desafios

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Arbitro de Video
foto: Fernando Torres / CBF

Não é de hoje que a arbitragem brasileira é alvo de críticas e questionamentos. Erros em decisões cruciais, percepções de parcialidade e critérios inconsistentes tornam-se pauta recorrente dentro e fora dos estádios. 

Enquanto torcedores, clubes e imprensa exigem melhorias, surge um debate importante: será que a solução está apenas no uso crescente da tecnologia, como o sistema de impedimento semiautomático, ou são necessárias mudanças estruturais mais profundas?

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PARCIALIDADE?

Uma pesquisa recente realizada pela AtlasIntel indicou que mais da metade dos torcedores brasileiros acredita que árbitros favorecem determinados clubes. Palmeiras, Flamengo e Corinthians são apontados como os principais beneficiados, com 72%, 70% e 60% das menções, respectivamente. Isso gera uma crise de credibilidade que afeta a imagem da arbitragem nacional.​

Michel Bastos, ex-jogador e comentarista esportivo, chamou a arbitragem brasileira de “a pior no mundo” e destacou a necessidade urgente de profissionalização do setor

“Tem que mudar muita coisa, tem que profissionalizar. Erros frequentes e graves têm marcado os jogos, o que impacta diretamente no resultado e na confiança dos torcedores e clubes”, afirmou ele.​

REGRAS E CRITÉRIOS

O principal problema apontado é a falta de uniformidade nas marcações, especialmente em lances decisivos, como pênaltis e faltas perigosas. Cada árbitro parece aplicar critérios distintos, levando a reclamações recorrentes de clubes, jogadores e torcedores.

Renata Ruel, comentarista de arbitragem da ESPN, critica a forma como os árbitros são punidos: “A CBF afasta alguns juízes da ‘geladeira’ após erros, mas isso não soluciona o problema. Quem orienta muitas vezes falha ao instruir. Precisamos focar na melhoria do processo de formação e acompanhamento, não só na punição”. A falta de padronização causa insegurança em campo e gera atritos que poderiam ser evitados.​

Ademais, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) busca estabelecer um pacto entre clubes, jogadores e árbitros para unificar os critérios de arbitragem. A ideia é seguir modelos internacionais, como o da Inglaterra, que realizou simpósios para padronizar as decisões e permitir um ritmo mais acelerado aos jogos.​

IMPEDIMENTO SEMIAUTOMÁTICO

A partir de 2026, o Campeonato Brasileiro da Série A será o primeiro na América do Sul a adotar o sistema de impedimento semiautomático (SAOT). Essa tecnologia utiliza câmeras de alta velocidade e inteligência artificial para rastrear a posição exata dos jogadores e da bola em tempo real e alertar os árbitros de vídeo (VAR) quando ocorre uma possível infração.

Samuel Xavier, lateral-direito e atleta que já discutiu questões de arbitragem, comenta que a tecnologia pode ajudar, mas não é a solução definitiva:

“O impedimento semiautomático vai dar mais precisão nas decisões, mas o juiz e o VAR precisam continuar tomando a decisão final, que envolve interpretação e contexto do jogo. A tecnologia é uma ferramenta, não uma mágica”.​

INFRAESTRUTURA

Além disso, a implantação do sistema prevê uma infraestrutura robusta com 24 câmeras por estádio e alta estabilidade da rede para garantir o funcionamento sem falhas. 

Para os árbitros, significa um suporte técnico maior que deve reduzir erros em lances controversos, agilizar decisões e dar mais transparência ao público. Para os clubes e jogadores, representa menos incertezas em lances decisivos.

ANULAR JOGOS POR ERROS GRAVES?

Um tema polêmico é a possibilidade de anular partidas quando a arbitragem tem desempenho considerado desastroso. Casos como a suspensão de árbitros pela CBF, prática conhecida como “geladeira”, mostram que a entidade reconhece falhas, mas não há respaldo para anular jogos após erros graves.

Uma comentarista de arbitragem da TV brasileira discorda da suspensão isolada e defende uma reflexão maior: “Se o produto final é ruim, o problema está na formação de todo o processo, não somente no juiz afastado. Anular jogos seria muito drástico e geraria um caos no calendário, mas é necessário haver responsabilidade e aperfeiçoamento contínuo”.​

Samuel Xavier acrescenta que o futebol precisa de transparência e critérios claros para a arbitragem, para que o sentimento de injustiça diminua:

“É fundamental que todos entendam as decisões, que os árbitros tenham apoio e sejam avaliados de forma justa, evitando erros que prejudiquem clubes e jogadores ao ponto de comprometer o jogo”.

CONCLUSÃO

A arbitragem brasileira enfrenta um momento desafiador, com críticas que vão além da aplicação da tecnologia. A adoção do sistema de impedimento semiautomático promete agregar precisão e ajudar na uniformização das decisões.

Porém, a mudança profunda precisa incluir melhor formação, acompanhamento rigoroso dos árbitros, padronização nacional dos critérios e diálogo constante com clubes e atletas.