Do torcedor ao influenciador: como as redes sociais mudaram o jeito de viver o futebol

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Influenciadores
Imagem: Eduardo Thomaello Agência de Marketing Digital

Em poucos anos, as redes sociais revolucionaram a maneira como o futebol é vivido e consumido no Brasil. O que antes era restrito a transmissões televisivas, jornais impressos e rádios, agora foi democratizado, “viralizado” e transformado, inclusive, com torcedores ganhando voz tão poderosa quanto a de veículos tradicionais.

Uma pesquisa do Cetic.br de 2022 revelou que 84% dos brasileiros conectados usam a internet para acompanhar esportes, seja por vídeos, análises ou transmissões ao vivo.

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A ASCENSÃO DO TORCEDOR-INFLUENCIADOR

Marcas e clubes rapidamente perceberam o poder da interatividade. Segundo a Croma Consultora, 22% dos entrevistados seguem influenciadores esportivos, sendo o craque Neymar. lembrado por 10% como o maior influenciador, contando com mais de 229 milhões de seguidores no Instagram.

Já Casimiro Miguel, conhecido por ter criado Cazé TV, figura como o segundo influenciador mais importante no mundo do futebol, com milhões de espectadores simultâneos durante transmissões da Copa do Mundo de Clubes da Fifa.

“Isto é uma revolução”, destacou Bianca, especialista em mídia esportiva: “a democratização representa uma revolução na forma como o esporte é acompanhado e narrado”.

Não são exceção influenciadores como o fenômeno “Luva de Pedreiro” – Iran de Santana Alves – que, com bordões como “Receba!” e expressões espontâneas, tornou-se o brasileiro mais seguido no Instagram no universo do esporte.

A TROCA DE PAPÉIS: DA ARQUIBANCADA À TELA

A grande virada veio com a fórmula: torcedor + smartphone = conteúdo instantâneo. Estudo do Centro Esportivo Virtual (CEV) mostrou que a percepção de interatividade online aumenta significativamente o engajamento com o clube, assim como a intenção de compra futura.

Samanta Alves, repórter e influenciadora do Botafogo, passou dos vídeos para dançar nos estádios do Rio à cobertura profissional, um exemplo de como o torcedor comum pode se tornar voz respeitada.

Os clubes também entraram na onda: publicações ao vivo de treinos, entrevistas exclusivas e bastidores viraram rotina. Flamengo, Palmeiras e Corinthians, por exemplo, cresceram no Instagram com milhões novos seguidores.

Com de 1,8 milhão de novos seguidores só no primeiro semestre de 2024, o alviverde paulista liderou com 9% de crescimento no período.

INFLUÊNCIA QUE VALE MÍDIA

No cenário global, o marketing de influência esportiva movimenta cifras bilionárias. Segundo estudo da Nielsen, o valor do espaço de mídia digital de atletas saltou de US$ 174 milhões em 2019 para US$ 1,2 bilhão em 2023, um aumento de 282%.

Amir Somoggi, especialista em marketing, destaca que “os atletas são os maiores influencers da atualidade – heróis que arrastam bilhões de fãs”.

Jogadores como Cristiano Ronaldo, Neymar e Vinícius Júnior também se tornaram marcas pessoais, com grandes contratos publicitários nas redes. Neymar atinge frequentemente 10 milhões de visualizações por Reels, com engajamento médio de 1,82%, segundo dados da plataforma Influency.

CRÍTICOS OU APOIADORES: O PODER DA NARRATIVA

Não são apenas aplausos, pois as redes também amplificam críticas e cobranças. Em 2023, influenciadores ligados a clubes como Corinthians e Cruzeiro impulsionaram protestos em CTs, cobrando demissões de técnicos e gerando até ameaças virtuais.

Nas plataformas, pesquisas apontam que conteúdos de torcedores apaixonados, furiosos ou emocionados costumam “viralizar”. Um estudo do Reddit sobre o Canal do Barolo mostrou que vídeos de torcedores inconformados com derrotas recebem mais visualizações que os de análises técnicas. Um internauta comentou:

“Cara, o público gosta de ver a reação dos influenciadores… é engraçado ver o Casimiro p…, o Barolo p… o importante era o super chat”, “disse.

LIMITES E RESPONSABILIDADES

Todo esse ambiente, porém, traz tensões: a mesma velocidade que permite “viralizar” boas notícias, pode perpetuar fake news e hostilidades. Plataformas travam batalhas contra discursos de ódio e desinformação, mas ainda carecem de formas eficazes de moderação.

Flávio Prado, jornalista, alerta que “a qualidade da crônica esportiva vem se precarizando”, com opiniões que seguem pautas editoriais e buscam visualizações.

Além disso, o modelo de monetização, muitas vezes baseado em propagandas de apostas esportivas, levanta questões éticas. Criadores recebem comissão por cada aposta referenciada – um caminho que promete ganho, mas também pode gerar tensões morais, especialmente se os vídeos incitam comportamento problemático.

O FUTURO: HÍBRIDO, INTERATIVO E AUTÊNTICO

O futebol no Brasil entrou em uma era híbrida: telespectadores veem jogos na TV e também acompanham narrativas paralelas no TikTok, no Instagram e no YouTube.

Um torcedor pode assistir ao vivo numa rede de TV tradiconal, comentar com Casimiro e depois ver a análise de um influenciador enquanto interage nos comentários.

CONCLUSÃO

A metamorfose é clara: hoje não para mais no estádio ou na TV. Nas redes sociais, cada gol, drible ou panela de pipoca diante da tela é parte de um ecossistema que une torcedores, clubes, jogadores, marcas e influenciadores em tempo real.

De simples expectador, o torcedor virou protagonista digital – e o palco se estende muito além do campo.