Promessas silenciosas: as transferências menos óbvias de 2025

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Zagueiro Jair
Foto: Zagueiro Jair/Raul Baretta, SFC

Enquanto boatos de jogadores consagrados dominam os noticiários, algumas negociações menos badaladas têm implicações profundas para o futuro dos clubes – especialmente quando envolvem jovens talentos ou ajustes estratégicos silenciosos.

Com base neste panorama, apresentamos neste texto alguns casos que passaram relativamente despercebidos, mas apontam para tendências importantes no mercado.

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PROMESSAS EM ASCENSÃO E VENDAS DISCRETAS

Uma das histórias mais interessantes é a de Jair Cunha, zagueiro formado no Botafogo, vendido ao Nottingham Forest na Inglaterra. Pouco se falou do valor exato no Brasil, mas a transferência por €12 milhões representa uma forte valorização de um jogador que pouco tempo atrás era reserva.

“Com certeza, foi uma experiência muito positiva, em que eu pude fazer bons jogos pelo Botafogo. A gente pôde chegar às oitavas. Creio que pode ajudar bastante pela experiência, pelo contexto da competição. Agora uma Copa do Mundo aqui pelo sub‑20 acho que pode agregar muito”, disse Jair Cunha.

A venda do defensor é apenas um exemplo que reforça a estratégia de clubes brasileiros de ajustarem dívidas ou equilibrarem finanças via ativos formados localmente.

Outro caso que merece atenção é o de Valentín Gómez, zagueiro de 21 anos do Vélez Sarsfield (Argentina). O Cruzeiro o tem observado, mas não avançou com alguma proposta.

A diretoria do clube de Belo Horizonte avalia que qualquer contratação precisará condizer com o orçamento apertado e aposta também em alternativas para não ficar dependente de uma única negociação.

“Meu agente conversou com o Cruzeiro, e conseguimos que fizessem uma oferta de um pouco mais de dinheiro. Era por volta de 8,5 milhões de dólares para o Vélez. Não sei se algo se passou no clube, na organização, que deixaram de responder o telefone”, destacou Valentín Gómez.

Este tipo de observação de mercado – sondagem, desistência, espera por preço justo – costuma passar despercebido, mas mostra como times grandes estão cada vez mais cautelosos.

NO EXTERIOR

No cenário internacional, destaca-se a contratação de Tom Bischof pelo Bayern de Munique, que defendia o Hoffenheim, a custo zero. Trata-se de um jovem sub‑21 que criou muitas chances de gol na temporada 2024/25. Bischof representa investimento de longo prazo – o tipo de negócio que clubes bem estruturados fazem sem alarde, mas que pode render muito. Não há torcida exacerbada nem cobertura mundial intensa, mas o clube aposta forte em sua evolução.

Também fora dos holofotes nacionais, Samu Aghehowa, atacante do Porto, tem se destacado. Com 20 anos, é uma das promessas do futebol português — alto, forte, com bom poder de finalização.

Embora haja uma cobertura moderada nos meios de comunicação, ele ainda não teve sua transferência tratada como blockbuster, mas seu desempenho o coloca no radar de clubes maiores.

ESTRATÉGIAS SILENCIOSAS EM CLUBES GRANDES

Além de jovens talentos, os principais clubes estão fazendo movimentos mais estratégicos e menos “midiáticos”, para ajustar plantéis, adaptar orçamentos ou reforçar setores específicos.

O São Paulo, por exemplo, definiu uma meta ambiciosa de arrecadar R$ 155 milhões através de vendas de promessas, como Matheus Alves, Ryan Francisco e Lucas Ferreira.

O clube já garantiu cerca de R$ 85 milhões com saídas de jogadores como Erick, Michel Araújo, Wellington Rato, Nestor e William Gomes, este último negociado com o Porto.

Trata-se de uma estratégia de gestão que passa longe de transferências estreladas, mas que pode ser decisiva para o equilíbrio financeiro do clube e para sua capacidade de investir com sustentabilidade.

COLORADO

O Internacional também tem agido de maneira silenciosa, com Ricardo Mathias – jovem centroavante – ganhando espaço como titular em momentos decisivos, como jogos da Conmebol Libertadores.

O atleta superou nomes mais experientes no elenco, e seu crescimento indica a aposta do clube em jovens talentos internos em vez de buscar apenas comprar reforços caros.

O Internacional ainda fez uma sondagem pelo zagueiro Juninho, que atua no Midtjylland, da Dinamarca. Até o momento o interesse não evoluiu para uma proposta formal, porém o fato demonstra que o clube busca reforços táticos – jogadores com experiência internacional, mas também com valor potencial de revenda, ou cuja contratação não implica em cifras estratosféricas.

Outra transferência menos comentada mas reveladora de intenções é a de Fabrício Bruno para o Cruzeiro. O defensor, ex‑Flamengo, foi contratado pela Raposa por cerca de €7 milhões, reforçando uma linha de montagem de elenco que mescla experiência e reforços com perfil de competitividade, sem estourar orçamento.

Para um clube que busca retomar protagonismo, como é o caso cruzeirense, esse tipo de contratação é estratégico: solidez defensiva, identificação com exigências do futebol moderno, e retorno de investimento.

IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS

Tais exemplos apontam para algumas tendências claras no mercado de 2025:

  • Valorização da base: clubes estão mais atentos à formação e à venda de jogadores jovens, não apenas para gerar receita, mas como parte de modelo de sustentabilidade.
  • Negócios mais cautelosos: sondagens, propostas observadas, esperas por preço justo — o que antes podia ser ignorado ou mal aproveitado — agora são parte da rotina estratégica.
  • Mistura de experiência e juventude: reforços não necessariamente famosos, mas com perfil interessante — altura, presença física, capacidade tática — para funções específicas (zaga, meio‑campo, ataque).
DESTAQUES NÃO ASSUMIDOS, MAS DECISIVOS

Para clubes grandes, a lição é clara: nem sempre é quem aparece muito na imprensa que vai fazer a diferença em campo ou no balanço financeiro. Às vezes, os nomes menos vazados, as negociações discretas e as apostas certeiras são as que moldam os próximos anos.

CONCLUSÃO

O mercado de transferências de 2025 está menos glamouroso em manchetes sempre estreladas, mas não menos estratégico. Jovens talentos emergem com discrição, clubes grandes ajustam orçamentos e plantéis com maior cautela, e as apostas silenciosas tendem a dar retorno se bem conduzidas.