As saídas de atletas brasileiros após o Mundial da Fifa

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Gerson
Gerson (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

O Mundial de Clubes FIFA de 2025, realizado nos Estados Unidos, funcionou como vitrine global para os clubes brasileiros. Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo entraram no torneio com expectativas altas – esportivas, de marketing e financeiras.

Ao fim da competição, os quatro já sofriam com um fenômeno conhecido, mas que volta a se intensificar neste ano: a saída de jogadores‑chave para o exterior, alimentada pela visibilidade recente, valores altos de mercado e desigualdade de capacidade de retenção. Esse efeito “bola de neve” traz custos para a estrutura esportiva, desempenho e planejamento estratégico dos clubes.

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EXEMPLOS DE SAÍDAS

Jhon Arias: destaque tricolor no mundial

Um dos casos mais emblemáticos é o de Jhon Arias, meia‑atacante do Fluminense. Após jogar em alto nível no Mundial de Clubes — sendo eleito o melhor em campo em três das quatro partidas do Fluminense e ajudando o clube a chegar às semifinais.

Pouco tempo depois, veio a transferência para o Wolverhampton, da Inglaterra. O valor divulgado gira em torno de €22 milhões (cerca de R$ 143 milhões na cotação do momento).

Arias se despediu do Fluminense afirmando:

“Não posso deixar de agradecer ao torcedor que me abraçou … Saio daqui com a mesma felicidade e tranquilidade de quando cheguei, com sentimento de dever cumprido …”.

Gerson: contrato, multa e despedida

Outro exemplo é Gerson, volante do Flamengo, que teve sua saída confirmada para o Zenit, da Rússia. A negociação envolveu o pagamento da multa rescisória pelo clube russo – estimada em cerca de R$ 160 milhões.

Ao se despedir oficialmente do Flamengo, Gerson deixou sua marca:

“Esse texto aqui é para agradecer. Agradecer por ter tido mais uma oportunidade de realizar meu sonho e de ser feliz no clube que escolhi torcer e amar: Clube de Regatas do Flamengo… Dedicação, entrega e comprometimento jamais faltaram.”

Richard Ríos: promessa cumprida, adeus ao Palmeiras

O Palmeiras também sofreu com essa dinâmica. Richard Ríos, meio‑campista colombiano revelado como um dos destaques do clube, foi vendido ao Benfica. O valor da transação é alto, de aproximadamente € 30 milhões (alguns reportes apontam cerca de R$ 194 milhões), com parte dessas receitas ficando com o Palmeiras.

Em sua despedida, Ríos foi também emotivo:

“Queria agradecer todo mundo aqui por todos esses anos. … Realizei muitos sonhos aqui, não só meu, mas da minha família. Acho que por isso a gente trabalha, pela nossa família. Agora estou indo realizar um sonho da minha família … Até breve!”

IMPACTOS SOBRE OS CLUBES

Equilíbrio financeiro versus desempenho esportivo

Essas vendas trazem alívio financeiro imediato. Para clubes como Flamengo, Fluminense e Palmeiras, que enfrentam pressões de folha salarial, dívidas, compromissos de infraestrutura e investimento, os valores das transferências ajudam a fechar “contas”. O Flamengo investiu pesado em contratações (como Samuel Lino, etc.) após as saídas.

Por outro lado, perder jogadores como Arias, Gerson ou Ríos implica em reconstruir o time rapidamente, muitas vezes sem tempo para adaptação, o que pode gerar queda de rendimento em torneios nacionais e continentais.

PLANEJAMENTO FRAGILIZADO

Clube que se torna dependente de venda de jogadores para equilibrar orçamento pode perder capacidade de planejar a longo prazo. Contratos de jovens, imobilizações em infraestrutura, base – tudo fica mais arriscado quando se espera “vender um ou outro” para manter os gastos operacionais.

No caso de Richard Ríos, por exemplo, o Palmeiras já sabia que ele estava na mira de clubes europeus antes mesmo do Mundial; há risco de o clube ficar exposto caso não tenha substituto à altura preparado.

EFEITO PSICOLÓGICO NO ELENCO

Quando um jogador de destaque sai, isso também afeta o grupo: periferia do elenco, jovens promessas, torcida. Há sensação de que “o clube forma para vender”, o que pode gerar desmotivação, menos investimento em continuidade ou apego ao projeto. A torcida fica também com a missão de aceitar que os “ídolos” têm prazo de validade mais curto.

COMPARAÇÕES COM O FUTEBOL EUROPEU

Enquanto clubes brasileiros se veem forçados a vender logo após o Mundial, clubes europeus se beneficiam dessa exposição. Eles observam os jogos, tentam identificar talentos que se destacaram em campo — e fecham negociações com rapidez.

Isso já era previsto: manchetes como as do jornal espanhol AS notaram que “desde o Mundial, nenhum dos clubes brasileiros conseguiu manter suas estrelas”

Isso coloca o Brasil em posição de exportador permanente, com dificuldade de reter seus melhores atletas, diferentemente de alguns clubes europeus que possuem orçamentos mais amplos, gestão de base estável e capacidade de segurar salários elevados ou cláusulas altas.

ALGUNS PROBLEMAS
  • Desempenho abalado: logo após as saídas, os clubes sofrem nos Campeonatos Brasileiros, parte por falta de reposição pontual, outra por descontrole no entrosamento.
  • Cláusulas de multa que valem muito, mas raramente suficientes: mesmo cláusulas elevadas, quando jogador quer sair ou clube europeu oferece bons incentivos, há pressão para negociar.
  • Dependência de venda: se o clube não ganha títulos ou se sai cedo em torneios, perde visibilidade crucial, ficando numa roda viva de “formar para vender” sem ascensão esportiva consolidada.
CAMINHOS PARA MITIGAR AS SAÍDAS
  1. Desenvolver e segurar talentos da base, oferecendo contrato bom, plano de carreira e vínculo emocional com o clube.
  2. Planejamento antecipado de reposição: clubes que antecipam a saída potencial já têm alternativas ou jovens preparados ou contratações alinhadas.
  3. Negociação inteligente de cláusulas: retenção de porcentagem de direitos econômicos futuros, bônus etc, como fez o Fluminense com Arias (mantendo 10%).
  4. Estrutura financeira robusta que permita ao clube resistir temporariamente à tentação de vender, para fortalecer o time no cenário nacional e internacional.
CONCLUSÃO

O Mundial de Clubes de 2025 teve sua importância: expôs jogadores brasileiros ao mundo, elevou patamar de visibilidade e trouxe luz sobre o talento que está fora da Europa. Mas também trouxe um custo: clubes brasileiros que chegaram longe ou tiveram destaque viram suas peças mais valiosas serem disputadas no mercado exterior, muitas vezes vendidas rapidamente após o torneio.