
O Mundial de Clubes FIFA de 2025, realizado nos Estados Unidos, funcionou como vitrine global para os clubes brasileiros. Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo entraram no torneio com expectativas altas – esportivas, de marketing e financeiras.
Ao fim da competição, os quatro já sofriam com um fenômeno conhecido, mas que volta a se intensificar neste ano: a saída de jogadores‑chave para o exterior, alimentada pela visibilidade recente, valores altos de mercado e desigualdade de capacidade de retenção. Esse efeito “bola de neve” traz custos para a estrutura esportiva, desempenho e planejamento estratégico dos clubes.
EXEMPLOS DE SAÍDAS
Jhon Arias: destaque tricolor no mundial
Um dos casos mais emblemáticos é o de Jhon Arias, meia‑atacante do Fluminense. Após jogar em alto nível no Mundial de Clubes — sendo eleito o melhor em campo em três das quatro partidas do Fluminense e ajudando o clube a chegar às semifinais.
Pouco tempo depois, veio a transferência para o Wolverhampton, da Inglaterra. O valor divulgado gira em torno de €22 milhões (cerca de R$ 143 milhões na cotação do momento).
Arias se despediu do Fluminense afirmando:
“Não posso deixar de agradecer ao torcedor que me abraçou … Saio daqui com a mesma felicidade e tranquilidade de quando cheguei, com sentimento de dever cumprido …”.
Gerson: contrato, multa e despedida
Outro exemplo é Gerson, volante do Flamengo, que teve sua saída confirmada para o Zenit, da Rússia. A negociação envolveu o pagamento da multa rescisória pelo clube russo – estimada em cerca de R$ 160 milhões.
Ao se despedir oficialmente do Flamengo, Gerson deixou sua marca:
“Esse texto aqui é para agradecer. Agradecer por ter tido mais uma oportunidade de realizar meu sonho e de ser feliz no clube que escolhi torcer e amar: Clube de Regatas do Flamengo… Dedicação, entrega e comprometimento jamais faltaram.”
Richard Ríos: promessa cumprida, adeus ao Palmeiras
O Palmeiras também sofreu com essa dinâmica. Richard Ríos, meio‑campista colombiano revelado como um dos destaques do clube, foi vendido ao Benfica. O valor da transação é alto, de aproximadamente € 30 milhões (alguns reportes apontam cerca de R$ 194 milhões), com parte dessas receitas ficando com o Palmeiras.
Em sua despedida, Ríos foi também emotivo:
“Queria agradecer todo mundo aqui por todos esses anos. … Realizei muitos sonhos aqui, não só meu, mas da minha família. Acho que por isso a gente trabalha, pela nossa família. Agora estou indo realizar um sonho da minha família … Até breve!”
IMPACTOS SOBRE OS CLUBES
Equilíbrio financeiro versus desempenho esportivo
Essas vendas trazem alívio financeiro imediato. Para clubes como Flamengo, Fluminense e Palmeiras, que enfrentam pressões de folha salarial, dívidas, compromissos de infraestrutura e investimento, os valores das transferências ajudam a fechar “contas”. O Flamengo investiu pesado em contratações (como Samuel Lino, etc.) após as saídas.
Por outro lado, perder jogadores como Arias, Gerson ou Ríos implica em reconstruir o time rapidamente, muitas vezes sem tempo para adaptação, o que pode gerar queda de rendimento em torneios nacionais e continentais.
PLANEJAMENTO FRAGILIZADO
Clube que se torna dependente de venda de jogadores para equilibrar orçamento pode perder capacidade de planejar a longo prazo. Contratos de jovens, imobilizações em infraestrutura, base – tudo fica mais arriscado quando se espera “vender um ou outro” para manter os gastos operacionais.
No caso de Richard Ríos, por exemplo, o Palmeiras já sabia que ele estava na mira de clubes europeus antes mesmo do Mundial; há risco de o clube ficar exposto caso não tenha substituto à altura preparado.
EFEITO PSICOLÓGICO NO ELENCO
Quando um jogador de destaque sai, isso também afeta o grupo: periferia do elenco, jovens promessas, torcida. Há sensação de que “o clube forma para vender”, o que pode gerar desmotivação, menos investimento em continuidade ou apego ao projeto. A torcida fica também com a missão de aceitar que os “ídolos” têm prazo de validade mais curto.
COMPARAÇÕES COM O FUTEBOL EUROPEU
Enquanto clubes brasileiros se veem forçados a vender logo após o Mundial, clubes europeus se beneficiam dessa exposição. Eles observam os jogos, tentam identificar talentos que se destacaram em campo — e fecham negociações com rapidez.
Isso já era previsto: manchetes como as do jornal espanhol AS notaram que “desde o Mundial, nenhum dos clubes brasileiros conseguiu manter suas estrelas”
Isso coloca o Brasil em posição de exportador permanente, com dificuldade de reter seus melhores atletas, diferentemente de alguns clubes europeus que possuem orçamentos mais amplos, gestão de base estável e capacidade de segurar salários elevados ou cláusulas altas.
ALGUNS PROBLEMAS
- Desempenho abalado: logo após as saídas, os clubes sofrem nos Campeonatos Brasileiros, parte por falta de reposição pontual, outra por descontrole no entrosamento.
- Cláusulas de multa que valem muito, mas raramente suficientes: mesmo cláusulas elevadas, quando jogador quer sair ou clube europeu oferece bons incentivos, há pressão para negociar.
- Dependência de venda: se o clube não ganha títulos ou se sai cedo em torneios, perde visibilidade crucial, ficando numa roda viva de “formar para vender” sem ascensão esportiva consolidada.
CAMINHOS PARA MITIGAR AS SAÍDAS
- Desenvolver e segurar talentos da base, oferecendo contrato bom, plano de carreira e vínculo emocional com o clube.
- Planejamento antecipado de reposição: clubes que antecipam a saída potencial já têm alternativas ou jovens preparados ou contratações alinhadas.
- Negociação inteligente de cláusulas: retenção de porcentagem de direitos econômicos futuros, bônus etc, como fez o Fluminense com Arias (mantendo 10%).
- Estrutura financeira robusta que permita ao clube resistir temporariamente à tentação de vender, para fortalecer o time no cenário nacional e internacional.
CONCLUSÃO
O Mundial de Clubes de 2025 teve sua importância: expôs jogadores brasileiros ao mundo, elevou patamar de visibilidade e trouxe luz sobre o talento que está fora da Europa. Mas também trouxe um custo: clubes brasileiros que chegaram longe ou tiveram destaque viram suas peças mais valiosas serem disputadas no mercado exterior, muitas vezes vendidas rapidamente após o torneio.